sábado, 8 de agosto de 2015

Mulheres ainda sofrem com escalpelamentos

Mulheres ainda sofrem com escalpelamentos (Foto: Fernando Araújo)
Vítimas de escalpelamentos, mulheres tentam retomar a vida e vencer as dores físicas e psicológicas (Foto: Fernando Araújo)
Há 5 anos, como de costume, Francidalva Pereira Damasceno, 30 anos, subiu na pequena embarcação da família, por volta da 6h, para ir ao centro da cidade de Portel, no Marajó, retirar o dinheiro do Bolsa Família. Orgulhosa dos cabelos lisos até a altura dos joelhos, a dona de casa, ribeirinha, se acostumou a navegar pelos rios e manter as madeixas num coque. Ela soube de casos de mulheres escalpeladas. Não queria ser vítima.
Ao retornar para casa, por volta de 10h, Francidalva foi até a lateral do barco para se molhar no rio. Porém, ela se desequilibrou, escorregou e os cabelos se prenderam ao eixo do motor e foram arrancados. Francidalva havia esquecido de amarrá-los. O barco tinha proteção no motor, mas o marido a retirou e acabou não colocando de volta. A partir desse momento, o que tanto a dona de casa temia aconteceu e ela entrou para a lista de sete vítimas de escalpelamentos registradas pela Santa Casa de Misericórdia do Pará, de janeiro até julho passado. Em 2014, 11 casos foram notificados em todo o ano.
Segundo Luzia Matos, coordenadora do Espaço Acolher, que atende mulheres vítimas de acidentes com motor, a última ocorrência foi registrada na quinta-feira, 30 de julho, com um menino do município de Cametá. A instituição está em busca de mais informações sobre o caso.
Para a pesquisadora do Espaço Acolher, Luiza Santos, há possibilidades do número de acidentes se igualar ou até superar os de 2014. Ela enfatiza que a informação é a maneira mais eficaz de reduzir os acidentes. “Se você circular pela região ribeirinha verá que lá não tem tv, rádio, nada. Eles não têm informação como aqui. Precisam de campanhas para orientar’’.
Foi por falta de informação que a dona de casa Maria Diniz da Cruz, 42, do município de Limoeiro do Ajuru, também no Marajó, se descuidou dos cabelos próximo ao motor. Ela não lembra quase nada do dia do acidente. Apenas sabe o que o filho, na época com oito anos, contou. “Vinha sentada atrás do barco. Fui abaixar para pegar um chopp e aconteceu o acidente. Quando acordei estava no PSM da 14’’, recorda.
Passados cinco anos do acidente, mensalmente Maria viaja para Belém onde faz curativos e é acompanhada por médicos. Ela sente fortes dores na cabeça. Só o uso de analgésicos aliviam. “A parte mais difícil já passou’’, diz, positiva.
BAGRE
Em Bagre, ainda no Marajó, a estudante Ana Alice Maia Gomes, na época com 12 anos, acompanhada das tias, foi brincar dentro de uma embarcação, mas cabelos ficaram presos no eixo do motor. A sobrancelha esquerda também foi arrancada. Aos 17 anos, Ana continua a fazer os curativos no couro cabeludo. O acidente não a impediu de estudar e seguir a vida. “Eu desejo me tornar assistente social”, revela.
Após os cabelos arrancados, as atividades destas mulheres se tornaram limitadas. Elas não podem carregar peso, pegar sol no couro cabeludo e até o ato de abaixar a cabeça causa dor. Há casos em que as mulheres perdem a orelha, sobrancelhas e a visão e audição ficam comprometidas. O tratamento é para a vida toda. Curativos são feitos no couro cabeludo até que não tenham lesões expostas. Finos pedaços de pele são retirados da perna ou da região lombar e enxertados no local exposto. O número de cirurgias depende do grau do acidente.
(DIário do Pará/Pararijos NEWS)

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