domingo, 10 de janeiro de 2016

Mestre Laurentino ganha festança


São mais de 60 pessoas, produtores e técnicos envolvidos numa festa de solidariedade para homenagear o roqueiro mais velho do Brasil: Mestre Laurentino, que no primeiro dia deste ano de 2016 chegou aos 90 anos. A grande festa de aniversário terá mais de 30 artistas e começa às 14h deste domingo, 10, no Mormaço e terá renda destinada a ele mesmo, como presente. Os ingressos na bilheteria custam R$ 30,00.
Gravado por diversos artistas em todo o país, o mestre nascido em Ponta de Pedras, no Marajó, é neto de escravos, João Laurentino da Silva, aos quatro anos, foi adotado por um juiz de direito chamado Francisco da Costa Palmeira. Estudou até a quinta série e comprou sua primeira gaita aos 18 anos. Trabalhou na roça, na extração de madeira e ainda como técnico de manutenção de aviões. Na década de 1970, compõe a música “Lourinha Americana”, gravada por Gilberto Gil, e nos anos 1990 era comum vê-lo na plateia de shows que eram realizados pelas praças de Belém.
Em nove décadas de histórias para contar, Laurentino coleciona viagens, amores, muitos filhos e cachorros, além da gaita, instrumento que marca sua carreira artística e que aliás foi  um dos motivos para realizar esta festança.
“A ideia de fazer o aniversário dele partiu de uma vontade de presentear o mestre com uma gaita, em um bate-papo no camarim. Apaixonados que somos pelo mestre, queríamos fazer algo para ajudá-lo, pois estava sem seu instrumento preferido. Ao longo da conversa, descobrimos outras necessidades e que seu aniversário estaria bem próximo, resolvemos, então, fazer uma festa para ele e ajudá-lo com parte da arrecadação da venda dos ingressos”, conta Renata, que está produzindo o evento, com o produtor Taca Nunes.
A cantora explica que convidou alguns artistas e logo a notícia da homenagem se espalhou. Resultado: o que, a princípio, seria um pequeno evento para comprar uma gaita, transformou-se na produção de uma super festa com mais de 30 artistas no palco rendendo homenagens a ele.
A festa reunirá Félix Robatto, Renata Del Pinho, Gláfira, Joelma Kláudia, Edilson Moreno, Juca Culatra, Keila Gentil, Lia Sophia, Manoel Cordeiro, Homero da Cuíca, Los Picoteiros, Mg Calibre, Nicobates e os Amadores, Nilson Chaves, Pedrinho Callado, Pedro Vianna, Pelé do Manifesto, Quaderna, Les Rita Pavone, Lucas Guimarães, Gisele Griz, Ana Clara Matos, Juliana Sinimbú, Montalva, Otto Ottoman, Pantoja do Pará e Dona ONete, que já havia realizado em setembro, deste ano, um bingo um bingo dançante no bairro da Pedreira, também com participação de vários artistas.
Carreira
Além de ter sido gravada por Gilberto Gil, em 2000, “Lourinha Americana” foi gravada ainda pela banda pernambucana Mundo Livre S/A, no CD “Por pouco”. Entre outras composições de Laurentino, estão ainda “Nega Mise-en-Plis”, “Aroeira” e “Vale de São Fernando”.
Ele costuma dizer que não compõe ritmos tradicionais do Pará. “Minha música é jazz, fox, rock, bolero, valsa, mazurca”, já declarou o músico em inúmeras entrevistas concedidas à imprensa.
Em 2002, ao participar de um festival de música realizado no Mercado de São Brás, em Belém, ele encontra com o Coletivo Rádio Cipó, banda com a qual gravou o primeiro registro de suas canções, no disco “Rádio Cipó”.
Em 2011, foi a vez dele ter uma banda própria, que surge no projeto idealizado por Beto Fares, intitulado “Laurentino e Os Cascudos”, que reuniu roqueiros mais jovens e lançou CD em 2014. Antes e depois disso, o mestre passou por incontáveis programas de auditórios nas emissoras de rádio e TVs locais e nacionais. Em 2013, foi um dos entrevistados de Charles Gavin no programa Brasil Adentro e, recentemente ele foi tema de um dos episódios de Visceral Brasil, exibido pela TV Brasil.
Apesar do carioca Serguei reivindicar pra ele o título de “roqueiro mais velho do Brasil em atividade”, a marca é mesmo de Laurentino, que nasceu 10 anos antes.
Por conta disso, a classe artística acredita que se faz necessário o reconhecimento ao mestre. Desde 2009, Laurentino porém, passa por tratamentos de saúde. Em abril de 2014, chegou a ser internado com quadro de pneumonia, em Belém. E embora continue a ser festejado no meio artístico, tem tido pouco trabalho por causa da situação da saúde, que se agrava com a idade.
A festa de aniversário de 90 anos além de um apelo social é ainda um forte chamado para a exaltação da cultura local que conta ainda com muitos outros mestres, como a própria Dona Onete, Mestre Vieira, que atualmente passa por tratamento de saúde na coluna, Mestre Solano, guitarrista como Vieira, e tantos outros ícones da nossa cultura.
“Nossa história deve ser recontada sempre para que as futuras gerações nunca esqueçam sua origem, sua identidade. Aprender, respeitar e reverenciar os mais velhos deve ser uma prática constante. O Mestre tem muito a nos ensinar e muito a ser aplaudido. E, apesar da idade avançada e da saúde fragilizada, ainda há muita vontade de subir nos palcos e tocar sua gaita, que é sua maior paixão”, diz Renata Del Pinho. (Pararijos NEWS)

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