Vítimas de escalpelamentos, mulheres tentam retomar a vida e vencer as dores físicas e psicológicas (Foto: Fernando Araújo)
Há 5 anos, como de costume,
Francidalva Pereira Damasceno, 30 anos, subiu na pequena embarcação da
família, por volta da 6h, para ir ao centro da cidade de Portel, no
Marajó, retirar o dinheiro do Bolsa Família. Orgulhosa dos cabelos lisos
até a altura dos joelhos, a dona de casa, ribeirinha, se acostumou a
navegar pelos rios e manter as madeixas num coque. Ela soube de casos de
mulheres escalpeladas. Não queria ser vítima.
Ao retornar para casa, por volta de 10h,
Francidalva foi até a lateral do barco para se molhar no rio. Porém, ela
se desequilibrou, escorregou e os cabelos se prenderam ao eixo do motor
e foram arrancados. Francidalva havia esquecido de amarrá-los. O barco
tinha proteção no motor, mas o marido a retirou e acabou não colocando
de volta. A partir desse momento, o que tanto a dona de casa temia
aconteceu e ela entrou para a lista de sete vítimas de escalpelamentos
registradas pela Santa Casa de Misericórdia do Pará, de janeiro até
julho passado. Em 2014, 11 casos foram notificados em todo o ano.
Segundo Luzia Matos, coordenadora do Espaço
Acolher, que atende mulheres vítimas de acidentes com motor, a última
ocorrência foi registrada na quinta-feira, 30 de julho, com um menino do
município de Cametá. A instituição está em busca de mais informações
sobre o caso.
Para a pesquisadora do Espaço Acolher, Luiza
Santos, há possibilidades do número de acidentes se igualar ou até
superar os de 2014. Ela enfatiza que a informação é a maneira mais
eficaz de reduzir os acidentes. “Se você circular pela região ribeirinha
verá que lá não tem tv, rádio, nada. Eles não têm informação como aqui.
Precisam de campanhas para orientar’’.
Foi por falta de informação que a dona de casa Maria Diniz da Cruz, 42, do município de Limoeiro do Ajuru, também no Marajó, se descuidou dos cabelos próximo ao motor. Ela não lembra quase nada do dia do acidente. Apenas sabe o que o filho, na época com oito anos, contou. “Vinha sentada atrás do barco. Fui abaixar para pegar um chopp e aconteceu o acidente. Quando acordei estava no PSM da 14’’, recorda.
Foi por falta de informação que a dona de casa Maria Diniz da Cruz, 42, do município de Limoeiro do Ajuru, também no Marajó, se descuidou dos cabelos próximo ao motor. Ela não lembra quase nada do dia do acidente. Apenas sabe o que o filho, na época com oito anos, contou. “Vinha sentada atrás do barco. Fui abaixar para pegar um chopp e aconteceu o acidente. Quando acordei estava no PSM da 14’’, recorda.
Passados cinco anos do acidente, mensalmente
Maria viaja para Belém onde faz curativos e é acompanhada por médicos.
Ela sente fortes dores na cabeça. Só o uso de analgésicos aliviam. “A
parte mais difícil já passou’’, diz, positiva.
BAGRE
Em Bagre, ainda no Marajó, a estudante Ana
Alice Maia Gomes, na época com 12 anos, acompanhada das tias, foi
brincar dentro de uma embarcação, mas cabelos ficaram presos no eixo do
motor. A sobrancelha esquerda também foi arrancada. Aos 17 anos, Ana
continua a fazer os curativos no couro cabeludo. O acidente não a
impediu de estudar e seguir a vida. “Eu desejo me tornar assistente
social”, revela.
Após os cabelos arrancados, as atividades
destas mulheres se tornaram limitadas. Elas não podem carregar peso,
pegar sol no couro cabeludo e até o ato de abaixar a cabeça causa dor.
Há casos em que as mulheres perdem a orelha, sobrancelhas e a visão e
audição ficam comprometidas. O tratamento é para a vida toda. Curativos
são feitos no couro cabeludo até que não tenham lesões expostas. Finos
pedaços de pele são retirados da perna ou da região lombar e enxertados
no local exposto. O número de cirurgias depende do grau do acidente.
(DIário do Pará/Pararijos NEWS)
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