
O Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público do Pará (MPE) e
Defensoria Pública do Estado entraram, ontem, com ação na Justiça
Federal pedindo, liminarmente, a paralisação total das atividades do
porto de Vila do Conde, em Barcarena, no Baixo Tocantins, onde
naufragou, no último dia 6, o navio Haidar, de bandeira libanesa, com
cinco mil bois vivos. A ação pede que o funcionamento do porto seja
interrompido até que as empresas responsáveis e a Companhia de Docas do
Pará (CDP) tomem as providências necessárias para atenuar os danos.
Desde domingo, 300 toneladas de carcaças de bois foram despejadas nas
praias e furos da região e há um total de 740 toneladas de combustíveis
na embarcação naufragada, colocando em risco todo o ecossistema da bacia
dos rios Pará e Capim, com riscos inclusive à vida humana das
populações ribeirinhas, conforme atestam vários especialistas.
“Está bem claro que não se tem como dar a devida prioridade e atenção
aos problemas com a operação portuária em funcionamento. É claro que o
embargo pode causar transtornos, mas deve haver os impedimentos das
atividades portuárias. A situação é insalubre até para as pessoas que
estão no local. Esse pedido é uma tutela de urgência. Pedimos que
imediatamente o juiz se manifeste sobre isso, antes mesmo de ouvir a
parte contrária”, argumentou o procurador da República Bruno Valente.
A expectativa é de que o pedido de liminar seja apreciado em até 48
horas. A ação pretende que todos os envolvidos, entre os quais a CDP e
as empresas Global Norte Trade e Minerva, responsáveis, respectivamente,
pela operação portuária e pelo transporte dos bois, prestem de imediato
atendimento à população atingida, com fornecimento de máscaras
adequadas contra o mau cheiro, distribuição de água potável, ajuda
financeira para os moradores impactados e aprovação de um cronograma
para retirada de todo o óleo e das carcaças que ainda estão no navio.
Pelo porto de Vila do Conde passam em torno de 20 mil toneladas de
alumina diariamente, afora as operações de embarque e desembarque de
alumínio, bauxita, coque, piche, fertilizantes, soja e uma série de
outros produtos. Uma fonte que opera no porto pela Amunorte disse que só
ontem a empresa mudou quatro vezes a rotina de embarque e desembarque
de insumos.
Até o momento foram contabilizadas 148 famílias atingidas diretamente
somente no município de Barcarena, segundo levantamento feito pela
Secretaria Municipal de Assistência Social do município. Para a
defensora pública Aline Rodrigues, que atua no município, a ação
judicial se tornou imprescindível, pois os réus não tomaram as medidas
necessárias para mitigar os danos. Na praia de Beja, município de
Abaetetuba, também no Baixo Tocantins, as comunidades também não têm
como se sustentar da pesca ou nem mesmo beber água, já que dependem
unicamente do rio para a subsistência.
O navio Haidar, do Líbano, afundou no último dia 6 de outubro com uma
carga de cinco mil bois vivos e 700 mil litros de óleo diesel, no porto
de Vila do Conde, em Barcarena. Após seis dias do naufrágio, na
madrugada da última segunda-feira, 12, a barreira de contenção feita
pela CDP se rompeu, espalhando o óleo e centenas de carcaças de bois
pelos rios e praias da região.
Estado usará drone para levantar informações em Barcarena
O levantamento de informações detalhadas acerca dos danos ambientais
provocados pelo acidente no Porto de Vila do Conde, em Barcarena,
contará na quarta-feira, dia 21, com uma aeronave drone, batizada de
AtlantikSolar. O sobrevoo do drone ocorrerá a partir das 13 horas. O
AtlantikSolar foi desenvolvido por cientistas do Laboratório de Sistemas
Autônomos do ETH Zurich (Instituto Federal Suíço de Tecnologia) e está
vindo ao Pará em parceria com a Secretaria de Estado de Ciência,
Tecnologia e Educação Técnica e Tecnológica (Sectet). O drone possui uma
câmera de alta resolução capaz de gerar imagens em 2D, em 3D e em
infravermelho.
“O equipamento vai ajudar a mapear a situação da região e poderá
complementar, por meio das imagens aéreas que mostrarão a dimensão do
desastre, o trabalho que já tem sido feito no local”, explicou Mayra
Castro, diretora da Swissnex Brazil em São Paulo, consulado científico
ligado à embaixada da Suíça, e também responsável pela vinda do
equipamento ao Estado. Técnicos da Sectet têm expectativa de que os
dados e imagens obtidos pelo AtlantikSolar possam subsidiar novos
estudos com vistas à preservação ambiental da região.
O AtlantikSolar realizará, no dia 22, o percurso Barcarena–Melgaço,
para coletar informações atmosféricas sobre vento, umidade, temperatura e
radiação em trechos da floresta nunca estudados. “Hoje esse tipo de
informação é coletada, primordialmente, por meio de satélites e
radares”, complementa Mayra Castro, diretora da Swissnex Brazil.
Movido à energia solar, o AtlantikSolar foi desenvolvido pelos
cientistas suíços para ser útil em desastres ambientais, como o ocorrido
em Barcarena, na detecção de focos de incêndio na floresta, resgate de
pessoas em locais de difícil acesso ou na coleta de dados científicos.
Antes do acidente em Barcarena, já havia uma programação de apresentação
do equipamento no Pará, com o objetivo de estreitar os laços do Estado
com a Suíça e também de compartilhar a tecnologia com os cientistas
locais.
Carcaças de bois são retiradas da praia, mas óleo continua
Trabalhadores retiraram as carcaças de bois que estavam na praia de
Vila do Conde, para onde foram levadas, pelas águas, na noite de
domingo. A remoção foi concluída por volta das 19 horas da última
quarta-feira. Ontem pela manhã, porém, mais dois bois foram parar na
praia e também foram retirados. Moradores disseram que, no início da
tarde, houve um novo vazamento de óleo oriundo do navio Haidar, que,
embarcado com quase cinco mil bois vivos, afundou no dia 6 deste mês, no
porto de Vila do Conde, causando um desastre ambiental sem precedentes
no Pará. E, também ontem, a Prefeitura de Barcarena começou a distribuir
cestas básicas para os moradores que residem na rua Lauro Sodré, que
fica na orla da praia e onde estão as pessoas até agora mais impactadas
pelo acidente.
No total, foram retirados em torno de 480 bois da praia de Vila do
Conde, afirmou Luciano Silva, gerente de operações da Cidade Limpa
Ambiental, empresa que está realizando esse trabalho. Ele afirmou que a
operação começou no sábado e foi intensificada no domingo. Com a
retirada dos animais mortos da praia da Vila do Conde, já não havia,
ontem, o forte odor que perdurava desde a noite de domingo. E, aos
poucos, os moradores que residem às proximidades do local começaram a
abrir suas casas, para entrar a ventilação. No entanto, comerciantes e
pescadores continuam sem poder realizar suas atividades, já que a praia
está interditada e ainda há manchas de óleo no rio. Donos de
estabelecimentos comerciais acreditam que, por causa do desastre
ambiental, ainda levará bastante tempo para que o movimento volte ao
normal em Vila do Conde. Na última terça-feira, começou a distribuição
de água potável para os moradores - um garrafão de água para cada
família.
O coronel Augusto Lima, que, pela Defesa Civil do Estado, coordena a
operação em Vila do Conde, disse que, com a retirada das carcaças dos
bois, agora será feita a desinfecção da praia da vila do Conde e das
ruas. Sobre o vazamento de óleo, ele comentou: “Temos um pedaço de óleo,
que estamos analisando o que aconteceu. Estamos cobrando da empresa, e
acionamos os órgãos do Estado da área ambiental para acompanhar esse
ponto específico que nós notamos”, disse, para completar: “Já temos
indícios desse vazamento”. Por volta das 17 horas, havia um boi morto na
praia da Vila do Conde, no final da rua Lauro Sodré. “Os bois saíram da
embarcação e foram levados por correntes. É natural aqui e ali
aparecerem. O que estamos fazendo é informando a empresa, dando a
localização, para ela fazer a retirada das carcaças”, afirmou o coronel
Lima. (Pararijos NEWS)