Suzana ainda espera que o Estado puna os culpados pela morte do filho (Foto: Alzyr Quaresma)
“Esses caras vem
atrás da gente!”. Essas foram as últimas palavras ditas por Márcio dos
Santos Rodrigues, de 22 anos, antes de ser morto com um tiro nas costas.
Márcio foi uma das vítimas da chacina que tomou as ruas de cinco
bairros de Belém, na madrugada entre os dias 4 e 5 de novembro do ano
passado. Para os familiares de Márcio e dos demais jovens mortos,
passados nove meses dos crimes que vitimaram onze pessoas, o que
persiste é a luta por respostas e justiça.
A dona de casa Suzana Amaral, 46
anos, soube dos momentos finais do filho por um dos sobreviventes. Eles
estavam na Rua da Olaria, no bairro do Tapanã, naquela madrugada.
Trabalhador, Márcio foi assassinado na porta de casa, quando voltava da
praça de alimentação de um shopping, onde tinha ido encontrar com amigos
no dia de sua folga. Suzana reproduz cada minuto daquele dia, tentando
entender o que ocorreu: “O meu filho vem com dois amigos na moto, passa
por uma viatura da polícia e, quando tá entrando na rua de casa, é
baleado nas costas!”. Testemunhas viram três pessoas que se deslocavam
em duas motocicletas, atrás dos jovens. “Não teve abordagem da polícia,
não teve nada. Foram só os tiros”, lembra ela.
Mesmo com a vida dilacerada pela
perda do filho, Suzana mantém sempre viva a força que a levou a buscar,
desde o dia do crime até hoje, por respostas concretas. Uma Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) foi instalada na Assembleia Legislativa
do Estado do Pará (Alepa). No relatório final da CPI, os deputados
reconheceram a existência de pelo menos quatro grupos de extermínio no
Estado.
Por outro lado, a investigação
oficial da Polícia Civil ainda permanece sem definição. “Não aceito! Não
tem como não conseguirem solucionar uma morte dessa”, acredita,
incisiva. “Meu filho nasceu no Barreiro, terminou a criação no Tapanã e
sempre foi um cidadão de bem. Mas esses desgraçados tiraram a vida
dele”.
Após nove meses, chacina que matou dez pessoas ainda não foi esclarecida. Foto: Reprodução Diário do Pará
AMEAÇAS
Diante da demora na apresentação
de resultados pelas investigações, o coordenador da Comissão de Justiça e
Paz da Paróquia da Terra Firme, Francisco Batista, de 36 anos, conta
que os familiares das vítimas já começam a se sentir reticentes ao
tratar do assunto. Pelo que se tem conhecimento, algumas famílias já
receberam, inclusive, ameaças. “Estão acontecendo coações em algumas
famílias. As pessoas falam sobre o assunto, porque sabem que é o papel
delas, mas não está sendo fácil”, reconhece.
Confira a cronologia da Chacina:
(Diário do Pará)
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