
O mandato discreto do senador Jader Barbalho (PMDB-PA), de muitas
ausências e pouca participação nas atividades parlamentares do Congresso
Nacional, ganhou ontem ares semelhantes à época em que o peemedebista
teve que renunciar a sua cadeira no Senado Federal, em 2002, para
escapar de uma cassação, sendo até preso pela Polícia Federal por
envolvimento no desvio de verbas da extinta Superintendência de
Desenvolvimento da Amazônia (Sudam).
Nadando contra a corrente moralista de quase a totalidade dos
senadores, Jader ocupou ontem a tribuna do Senado para defender o voto
secreto sobre a prisão do colega Delcídio Amaral (PT-MS), que,
inclusive, o cita no áudio em que articula a fuga de Nestor Cerveró.
“Não precisa nenhum senador ser fiscalizado”, disse peemedebista ao
pregar o voto obscuro. “Nenhum senador se sente confortável nessa
sessão. Deus poupe o Senado de viver outros episódios como esse”,
completou.
A Constituição determina que cabe ao Senado validar a decisão do STF
quando se trata de um parlamentar no exercício do mandato. A maioria dos
parlamentares defendeu publicamente o voto aberto, diante da gravidade
da crise política atual.
Alguns chegaram a se manifestar contra o discurso de Jader Barbalho.
“Tenho o direito de abrir o meu voto e o meu eleitor deve conhecer
minhas posições. Eu quero que o eleitor saiba como eu voto. Eu quero ser
fiscalizado”, argumentou o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), falando
diretamente para o senador do PMDB.
O senador Blairo Maggi (PMDB-MT) foi outro que rechaçou a proposta de
Barbalho de esconder o voto. “O meu eleitor merece saber o que seu
senador decide aqui nessa Casa.”
Reações - No entanto, a maior reação contra a defesa de Jader
Barbalho pelo voto fechado para se resolver a prisão de Delcídio Amaral
veio da população, por meio das redes sociais. Durante o longo discurso
citando o desconforto com a situação, internautas se manifestaram
criticando e ironizando o peemedebista.
“@jader_barbalho tenho vergonha de ter esse cara como senador pelo
meu estado. Voto secreto é coisa de bandido”, escreveu no Twitter do
Senado, Fco de Carvalho (@cstfco), de Ourilândia do Norte.
“Corrupções dele são mais do que provadas”
A maioria dos comentários postados com críticas à defesa que Jader
Barbalho fez do voto secreto argumentava que o peemedebista estava
preocupado com o risco de ser o próximo político a ser preso.
“@jader_barbalho isso só é verdade para quem tem rabo preso”,
escreveu Elizabeth Leal (?@bethlealpg). “@jader_barbalho Ele
principalmente.. está defendendo o pp rabo”, disse Elza Edely
(?@ElzaEdely). “@jader_barbalho Ele principalmente, que já sabe o
conforto da prisão”, ironizou Yuri (?@yuriqrn). “@jader_barbalho
Verdade, principalmente aqueles que são alvo de denúncias e delações e
percebem que podem ser os próximos”, postou José Roberto (?@jrvwagner)
durante o discurso.
Em outros textos no Twitter do Senado, era questionado como o senador
paraense ainda tinha espaço na política brasileira. “Cara não entendo
como o Jader Barbalho ainda é político. Corrupções dele são mais do que
provadas. O Brasil país que ser corrupto é legal”, protestou Felipe
Santana (?@felipessan).
Noblat - Jornalistas que cobrem a política brasileira se manifestaram
durante o discurso. É o caso do jornalista Ricardo Noblat
(@BlogdoNoblat) que postou: “Jader Barbalho é coerente quando se opõe à
prisão de um senador. Ele já foi preso. Sabe quanto é duro.” Renata Lo
Prete (?@renataloprete), da Globo News, também comentou: “Ao defender o
voto secreto, Jader Barbalho diz ter ‘ojeriza pelas palmatórias do
mundo1. No wonder.”
Senado dá aval à prisão de Delcídio decretada pelo Supremo
O Senado decidiu ontem, em votação aberta no plenário, manter a ordem
de prisão expedida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) contra o senador
Delcídio do Amaral (PT-MS), líder do governo na Casa. Com isso, o
parlamentar petista continuará preso por tempo indeterminado. A
manutenção da prisão foi decidida por 59 votos favoráveis, 13 contra e 1
abstenção.
Delcídio foi detido ontem, pela Polícia Federal (PF), acusado de
atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato. Em uma gravação, ele
oferece R$ 50 mil mensais à família de Nestor Cerveró para tentar
convencer o ex-diretor da área internacional da Petrobras a não fechar
um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF).
Pela Constituição, prisões de parlamentares que estejam no exercício
do mandato têm de ser submetidas à análise da casa legislativa a qual
ele atua.
Com a decisão do Senado de manter a prisão, Delcídio só poderá ser
solto quando o STF entender que ele não mais coloca em risco a
investigação e não pode cometer crimes fora da prisão. Agora, a
Procuradoria Geral da República terá 15 dias para apresentar ao STF uma
denúncia, com acusações formais contra o senador. Delcídio é o primeiro
senador em exercício preso desde a Constituição de 1988.
Conexões - A votação ocorreu de forma aberta, com a divulgação do
voto de cada parlamentar, conforme decidiu a maioria dos senadores
instantes antes. Mais cedo, o plenário do Senado decidiu pela votação
aberta. Antes, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), havia
defendido que a sessão fosse secreta, mas decidiu submeter a palavra
final ao plenário.
Mais - Também foram presos pela PF ontem de manhã o banqueiro André
Esteves, do banco BTG Pactual e o chefe de gabinete de Delcídio, Diogo
Ferreira. As prisões são preventivas, ou seja, não há data para vencer.
Petista cita peemedebista em conversa
O senador Delcídio do Amaral (PT) foi mais um a citar o nome de Jader
Barbalho (PMDB) durante as investigações da operação Lava Jato. Na
conversa, gravada por Bernardo Cerveró e entregue aos procuradores,
Delcídio sugeriu que poderia acionar o presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB), para conversar com o ministro do STF Gilmar Mendes
para tentar discutir a liberdade do ex-diretor da Petrobras.
Advogado responsável pela defesa de Ceveró, Edson Ribeiro ressalta
que considera “preocupante a situação de Renan”, que também é
investigado na Lava Jato. Delcídio diz que acha que tem mais coisa sobre
o presidente do Senado, que teria sido citado pelo lobista Fernando
Soares, o Baiano. Em seguida, o petista indica que Baiano teria falado
de Jader Barbalho.
Há cerca de um mês, Baiano entregou o nome de Barbalho como um dos
supostos beneficiários de propina referente à contratação de um
navio-sonda da Petrobras, ao lado de Delcídio, Renan, e do ex-ministro
Silas Rondeau, filiado ao PMDB. O depoimento foi inserido no inquérito
em que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), é investigado por
receber propina referente à contratação de navios-sonda da Petrobras.
Baiano aponta propina milionária para senador do PMDB
Segundo depoimento de Baiano, houve um acordo entre os quatro
políticos do PMDB. O acerto envolvia um pagamento inicial de US$ 4
milhões para os envolvidos. Entretanto, após o encerramento do contrato,
o valor final da propina ficou em US$ 6 milhões. O valor teria sido
dividido pelo lobista Jorge Luz, paraense que tem ligações estreitas com
a família Barbalho.
Luz é apontado como o maior lobista do País e de maior influência
dentro da Petrobras. Ganhou esse status após trabalhar para o governo
Jader Barbalho, em 1982, e para o seu sucessor, Carlos Santos. Baiano é
um discípulo de Jorge Luz e a cada depoimento indica que o paraense é a
peça-chave do quebra-cabeça do Petrolão.
No depoimento da delação, Baiano relatou que o acordo teria ocorrido
em 2010 e que Eduardo Cunha sabia do pagamento desses valores aos
senadores do PMDB. O lobista explicou que Cunha pediu sua ajuda para
fazer caixa para a campanha de 2010. A solução encontrada foi cobrar o
empresário Julio Camargo. Parte do dinheiro seria destinada a Cunha.
O delator disse a Cunha que Julio Camargo lhe devia US$ 16 milhões,
propina referente à compra de dois navios-sonda pela Petrobras. O
dinheiro deveria ser repassado pelas empresas Samsung e Mitsui. “Disse a
Cunha que teve pagamentos para políticos do PMDB por intermédio de
Jorge Luz, referente à primeira sonda; que fez menção ao nome de Renan e
do Jader Barbalho, como destinatários de parte dos valores referentes à
primeira sonda”, escreveram os investigadores.
A primeira vez que a lama da Lava Jato tomou Jader foi em setembro,
no depoimento de Nestor Ceveró. Segundo ele, da propina de US$ 15
milhões referentes à negociação da refinaria de Pasadena, ao menos US$ 2
milhões foram para Jader e de Renan. (Pararijos NEWS)