A maioria dos cidadãos de Belém acredita que a cidade não tem a orla
que merece. Apontam erros baseados em um conhecimento limitado dos
pormenores da lei e das condições físicas do local. Entretanto, o
Conselho de Arquitetura do Pará (CAU-PA) e o Conselho Regional de
Engenharia e Agronomia do Pará (CREA-PA) são unanimes em afirmar que são
muitos os problemas nessas áreas e que a solução passa pela reforma do
Plano Diretor Urbano (PDU) e do Código de Posturas do município. Ambas
as entidades colocam seus profissionais e seu know-how à disposição da
gestão municipal, no momento em que esta decidir que é hora de abrir um
diálogo sério e definitivo sobre a orla de Belém.
Foto: Oswaldo Forte/O Liberal
O processo de ocupação da orla de Belém vem acontecendo,
historicamente, por atividades econômicas, desde a origem da cidade,
visto que o rio, na região, sempre foi percebido como uma via de
transporte e escoamento de mercadorias e pessoas. “Este fato, fez com
que Belém se configurasse como uma cidade portuária, daí a realidade que
vemos até hoje e que se reflete na ocupação irregular e regular da orla
por empresas, portos e outras atividades econômicas. Entretanto, nos
últimos anos vimos acontecer na cidade um vertiginoso processo de
valorização fundiária, decorrente da má distribuição de infraestrutura e
transporte na região metropolitana, responsável pelo processo de
expulsão da população com baixo poder aquisitivo dessas áreas”, observou
a conselheira do CAU, arquiteta e urbanista, Alice Rosas.
Essa oferta reduzida de transporte de qualidade também é responsável
pela procura, por parte da população mais pobre, das “franjas”
disponíveis próximas ou no centro da cidade. A conselheira acredita que
esse fenômeno provocou, durante as últimas décadas, o processo de
ocupação das baixadas e mais recentemente a ocupação dos espaços ainda
remanescentes ao longo da orla de Belém, tanto por parte das atividades
econômicas informais, quanto por parte da população mais carente, com
habitações de baixíssima qualidade, configurando-se essas áreas como
áreas de risco - falta de segurança e salubridade e sujeitas a
desabamentos e inundações.
“Percebemos que o poder público se tornou incompetente para dar conta
dessa realidade e assistimos o problema se agravar a cada dia. Porém,
além das ocupações irregulares, também causa preocupação as ocupações
consideradas “regulares”, mas que estão na contra-mão dos dispositivos
legais mais atuais vigentes na cidade. Percebe-se claramente um
descompasso entre o que diz a Lei de Controle Urbanístico e o Plano
Diretor de Belém, sendo esta última a lei mais recente”, ressaltou
Rosas.
Para o coordenador técnico do CREA-PA, engenheiro civil Marcel
Bellini, o planejamento nulo é a maior causa da situação que o belenense
vê hoje. “Vemos a falta de um projeto urbanístico. Devemos envidar
esforços no intuito de realizar um projeto urbanístico, dando um novo
rosto à cidade de Belém, inclusive adaptando-se a orla a um projeto
turístico”, opinou. Para o CREA, o termo “favelização” é muito forte
para descrever o que existe hoje na orla de Belém. Porém, na visão do
CAU, o termo se justifica.
“As favelas são normalmente entendidas como habitações humanas em
áreas de morro. Mas, na verdade, favela designa áreas de ocupação de
terrenos invadidos, geralmente pertencentes ao poder público, que se
caracterizam, de modo geral, pela ausência de infraestrutura, pelos
altos índices de violência e pela marginalização social de seus
moradores. Considerando este conceito, o processo que ocorre na orla de
Belém, no que diz respeito à questão habitacional, pode ser considerado
favelização”, avaliou a arquiteta.
(Pararijos NEWS)
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