Aurélio do Cramo fez diversos relatos à comissão
A Comissão Estadual da Verdade iniciou a etapa das oitivas para
colher depoimentos em busca de esclarecer fatos ainda obscuros em
relação aos crimes contra a dignidade humana ocorridos nos períodos de
exceção democrática no País, em especial durante a Ditadura Militar, de
1964 a 1984. O primeiro depoente foi o ex-governador Aurélio do Carmo,
que governou o Pará entre 1962 e 1964, que tem 92 anos. Ele fez diversos
relatos na tarde de ontem, no auditório João Batista, na Assembleia
Legislativa do Pará (Alepa), na Cidade Velha.
O ex-governador foi eleito com 70% dos votos válidos em 1962.
Entretanto, dois anos mais tarde foi cassado pelos militares. À época, o
jovem advogado foi acusado de corrupção e subversão. No ano passado,
Carmo e mais dez deputados também cassados pelo regime militar tiveram
seus mandatos devolvidos de forma simbólica, em sessão solene na Alepa.
“Após a deposição, não me sentia muito à vontade para ficar na minha
cidade de Belém e fui para o Rio de Janeiro, onde fiquei por 10 anos,
mais pelo ambiente que se criou ao entorno dos que exerciam o poder.
Pessoas que eu ajudei se afastaram de mim, me sentia um leproso moral.
No Pará houve tortura física e moral. Sofri somente a moral. Eu era
jovem, tinha 38 anos, eleito pela maioria esmagadora e, de repente, fui
ateado do poder, sem ter nenhum preparo psicológico. A cada dia que
passa tenho mais consciência que fui injustiçado. Nada explica minha
saída do governo. Sinto como o golpe militar me fez mal, à minha família
e aos anseios de uma juventude que me escolheu para exercer o poder.
Contudo, quando fui eleito governador eu sentia que quem estava no
governo era o povo e eu tinha que lidar bem com todos”, opinou Aurélio
do Carmo.
O Liberal
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