O barqueiro João “Katirina” observa as águas do
Rio Pará com olhos de despedida. Há quase dois anos, ele cruza
diariamente os 500 metros de margem a margem, transportando passageiros.
É o seu ganha-pão desde o acidente que destruiu o pilar 14 e fraturou a
ponte Moju-Cidade em março de 2014. Nesse período, “Katirina” assistiu
de perto ao renascimento do elevado, cuja reabertura está prevista para
daqui a um mês.
O barqueiro chegou a fazer 30 viagens por dia, em rota paralela ao
percurso das três balsas contratadas pelo Governo do Estado para
garantir a travessia dos veículos com o menor tempo de espera possível. O
trabalho fez bem ao barqueiro. Ele acabara de perder o emprego quando a
ponte ruiu. Usou o dinheiro da indenização para comprar o barco e, com a
renda das viagens, já construiu casa e fez um pé-de-meia. Agora, com a
ponte restaurada, está pronto para dar outra guinada na vida.
“Vou vender o barco, comprar um carrinho, fazer uma viagem com a
família e já tenho um emprego me esperando na volta”, conta
entusiasmado, sem tirar os olhos da ponte. Lá no alto, 26 metros acima
do rio, um grupo de operários termina de assentar o concreto dos dois
tabuleiros de 36 metros, sustentados por vigas de 21 toneladas, que se
unem sobre o novo pilar 14.
Próxima do fim, a obra marcou a paisagem do Moju e se encerra sem
acidentes, consolidada em meio a uma operação de engenharia e logística
jamais vista na Amazônia, com uso de tecnologia de ponta, equipamentos
gigantescos e fases de extrema dificuldade.
Meio ambiente - A obra restaura a integridade da
Alça Viária, mais importante via de ligação entre a região metropolitana
e as rodovias de acesso ao sul do Pará e à região portuária de
Barcarena. O longo prazo de execução se justifica pelo cuidado especial
com o meio ambiente. Pontes são destruídas e reconstruídas com rapidez
em outros cenários, com o uso corrente de dinamite. Essa hipótese,
porém, foi descartada desde o começo pelo próprio governador Simão
Jatene, que recomendou aos técnicos envolvidos a solução de menor
impacto ambiental possível, ainda que mais demorada.
Por isso, a reconstrução só começou após a apresentação do estudo de
impactos e do plano de contingenciamento, prevendo medidas de segurança
para não assorear com entulho o Rio Pará nem ameaçar a flora e a fauna
da região, além de garantir absoluta segurança aos operários. Daí a
necessidade de construir o pórtico de sete metros de altura, chamado
A-Frame, utilizado para cindir as peças de concreto de 190 toneladas que
ficaram pendentes após a fratura da ponte.
A obra - O projeto de reconstrução começou pelo
escoramento da estrutura remanescente. Em seguida, foram retiradas do
leito do rio todas as ruínas de concreto, com o auxílio de
mergulhadores. A partir daí, vieram as fases mais delicadas: a
instalação do A-Frame no topo da ponte, a articulação das “línguas” de
concreto para o corte e a retirada, a desconstrução dos tabuleiros
afetados pelo choque da balsa, a reconstrução do pilar 14 e reforço das
demais colunas e, finalmente, a restauração das lajes maciças de
concreto sobre as quais, na semana que vem, começa a ser finalizada a
pista para tráfego de veículos.
Paulo Silber
Secretaria de Estado de Comunicação/Pararijos NEWS
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