O Pará está entre os cinco primeiros Estados
do Brasil a liderar o ranking de casos de estupros. Na região Norte, é o
primeiro nesse ranking negativo. De acordo com o Anuário Brasileiro de
Segurança Pública 2014, foram praticados 3.015 crimes de estupro no ano
passado. A média nacional é de 25 para cada 100 mil pessoas. O índice
paraense está bem acima disso, com 37.7.
O estudo ainda revelou o crescimento
assustador de uma violência praticada contra homens e principalmente
mulheres. Nas últimas semanas, vieram à tona dois casos consumados e uma
tentativa de estupro em Belém apresentados na Divisão Especializada no
Atendimento à Mulher (Deam). A polícia tem feito levantamento para
apurar outras ocorrências de crimes e se há ligação entre eles.
Segundo o relato das vítimas, as abordagens
aconteceram de maneira semelhante. Em via pública, foram forçadas a
entrar em um veículo com mais de um passageiro. E todos de boa
aparência.
O carro se aproxima da vítima, o motorista
pede uma informação e, quando a jovem percebe, está sendo ameaçada com
uma arma. O medo se apodera da mulher, o que torna difícil hesitar em
obedecer às ordens dos criminosos. Procurada pela reportagem, a
assessoria de imprensa da Polícia Civil se limitou a informar que as
investigações na Deam correm em segredo de justiça e não respondeu aos
demais questionamentos feitos por e-mail.
A principal orientação da polícia é que as
pessoas evitem andar em lugares sem movimentação. Não só as mulheres,
mas qualquer cidadão deve se manter alerta e evitar passar próximo a
terrenos baldios e sem iluminação. Quem sofreu abuso é orientado,
primeiramente, a procurar ajuda em um hospital, pronto-socorro ou
qualquer ponto público. Em seguida, procurar uma delegacia para
registrar boletim de ocorrência.
A partir de diversos tratamentos realizados
com vítimas de estupro, a presidente do Conselho Regional de Psicologia,
Jureuda Guerra, enfatiza que a vulnerabilidade é o fator principal para
uma tentativa de assédio sexual.
“Sabe aquela coisa antiga da ocasião faz o
ladrão? Pois é isso. O cara fica esperando o melhor momento. Isso é
real. Tem mulheres que estavam indo de madrugada para pegar ficha no
Posto de Saúde da Pedreira e foram violentadas”, relata.
Para a psicóloga, os estupradores não têm
medo de ser pegos. “Eles têm uma personalidade de impunidade. Eles não
têm medo. Eles têm que realizar aquele desejo naquela hora. Quanto mais
perigoso, mais prazeroso. E o não ser pego é o que justifica a próxima
vítima”.
ACIMA DE SUSPEITAS
ACIMA DE SUSPEITAS
Jureuda conta que atendeu uma mulher que
jamais imaginava que seria estuprada por um homem que a abordou no
bairro de Val-de-Cans. Segundo a vítima, ele estava em um carro de luxo,
falava ao celular, se aproximou e disse que estava perdido, pois não
era de Belém. Ela tentou ajudar. Foi aí que o homem a ameaçou e a forçou
a entrar no carro.
“Ela me contou que no carro tinha sapato de
criança, carrinho de bebê. Ele aparentava ser de classe média. Um cara
com barba feita, cavanhaque, camisa de marca. Ela contou os detalhes.
Dentro do carro, as maçanetas estavam com defeito. Não tinha como sair”,
diz.
Para a psicóloga, um estuprador convive
normalmente na sociedade e muitas vezes não é notado como alguém que
comete tais crimes. “É um tipo de transtorno. É uma pessoa sociopata.
Tem o comportamento social normal. Convive, frequenta igreja, mas
esconde uma personalidade velada. Tem um véu que encobre. Quanto à cura?
É muito complicado. Eu desconheço”.
(Diário do Pará)
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