Começaram a ser cadastrados ontem (8), na capital paulista,
estrangeiros que querem acessar benefícios sociais governamentais, como o
Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida. Até sexta-feira (12), a
inscrição no Cadastro Único (CadÚnico) ocorre no Centro de Referência e
Acolhida para Imigrantes do governo municipal.
A ação faz parte
do 2º Festival de Direitos Humanos, mas, depois desta semana, o cadastro
continuará disponível nas unidades da Secretaria Municipal de
Assistência e Desenvolvimento Social. A prefeitura avalia que a medida
pode auxiliar no combate ao trabalho escravo, pois atenderá, sobretudo, a
pessoas em situação de vulnerabilidade.
“Essa iniciativa tem
também o caráter de divulgação e de informação aos imigrantes. O acesso
aos programas sociais é um direito deles. Estamos fazendo uma ação de
fortalecimento para essa população”, explica a coordenadora adjunta de
Políticas para Migrantes da Secretaria de Direitos Humanos de São Paulo,
Camila Baraldi. A secretaria estima em 370 mil o número de imigrantes
regulares na cidade, mas o total de estrangeiros pode chegar a 1 milhão.
Segundo Camila, a inclusão no CadÚnico baseia-se no Estatuto do
Estrangeiro (Lei 6.815 de 1980), que, no Artigo 95, diz: "o estrangeiro
residente no Brasil goza de todos os direitos reconhecidos aos
brasileiros”.
A boliviana Margoth Ivanez, de 37 anos, pretende
fazer o cadastro para conquistar a casa própria. Há 20 anos no país,
Margoth tem três filhos brasileiros. “Ainda moro de aluguel, por isso
vou me inscrever no [programa habitacional] Minha Casa, Minha Vida”,
disse ela.
Sobre as dificuldades enfrentadas na chegada ao
Brasil, Margoth condidera as políticas de acolhida aos imigrantes
fundamentais para evitar aproveitadores. “Quem chega não conhece a
língua, não conhece o lugar, nem seus direitos de cidadão. As pessoas
têm medo até de sair na rua, não convivem com ninguém, não se comunicam,
o patrão as apavora e elas acabam sendo escravas.”
Concluído o
cadastro, os dados dos imigrantes serão enviados ao Ministério de
Desenvolvimento Social, no qual eles terão o perfil avaliado. Para ter
direito aos benefícios, é preciso atender a critérios como renda per capita
de meio salário mínimo ou renda familiar mensal até três salários
mínimos. Para ser inserido no CadÚnico, o imigrante deverá estar
legalmente no Brasil e ter pelo menos um documento, como CPF ou carteira
de trabalho. Em agosto deste ano, cerca de 3 mil imigrantes residentes
em São Paulo constavam do cadastro, informou Camila, que soube precisar a
quais programas eles tinham acesso.
Para Camila, é preciso
combater a ideia de que essas pessoas vêm ao Brasil somente para ter
benefícios. “É um tipo de pensamento que leva à xenofobia. São atitudes
que repudiamos, embora seja importante lembrar que imigrantes decidem
sair de seu país para buscar oportunidades fora e encontram uma série de
dificuldades.” Ela disse que esse apoio é fundamental como um suporte
mínimo para permitir que essas pessoas saiam da situação de
vulnerabilidade. “Os programas sociais são para que eles consigam se
reerguer, conseguir novamente autonomia e conquistar seus objetivos de
vida.”
É o que espera um jovem haitiano de 25 anos, que chegou ao
Brasil há um ano e dez meses. Ele não quis se identificar, por temer
retaliações a seus parentes no Haiti. Prestes a iniciar um curso de
logística na Escola Técnica Estadual de São Paulo, o estudante lembra
que teve dificuldades para se adaptar à vida no Brasil e destaca que
agora, com português fluente, tem encontrado muitas oportunidades.
“É difícil conseguir uma ocupação no meu país. A pessoa estuda, mas não
consegue entrar no mercado de trabalho”, conta o jovem haitiano. Ele
pretende se inscrever no Minha Casa, Minha Vida, mas usará a inscrição
para usufruir de benefícios como isenção na inscrição de concursos
públicos.
No Centro de Referência e Acolhida para Imigrantes,
além da inscrição no CadÚnico – serviço que está sendo oferecido somente
nesta semana – os estrangeiros que buscam uma nova vida no Brasil
encontram intermediação para trabalho, informações sobre regularização
migratória, documentação e cursos de qualificação e de português, além
de acesso aos serviços públicos municipais. No centro, eles podem obter
ainda orientação jurídica, feita por profissionais especializados na
questão migratória, e apoio psicológico.
O atendimento é feito
por imigrantes de sete nacionalidades, que oferecem informações em seis
línguas: inglês, espanhol, português, árabe, francês e creole, as duas línguas oficiais do Haiti. O suporte é prestado independente da nacionalidade, do status
migratório ou do amparo legal para a sua estada em território nacional.
O centro funciona das 8h às 17h, na Rua Japurá, 234, no bairro da Bela
Vista.
Agência Brasil
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