Marajó: análise do orçamento do Executivo para 2015 expõe a manutenção do abandono da região (Foto: Tiago Araújo/Arquivo)
Durante a
campanha eleitoral, o então candidato à reeleição, Simão Jatene (PSDB),
reacendeu o tema da divisão do Pará ao acusar o adversário Helder
Barbalho (PMDB) de estar a serviço dos separatistas. Ledo engano.
Quem parece estar trabalhando para dividir o
Estado é o próprio Simão Jatene, que vem apostando em uma política de
concentração de recursos na Região Metropolitana e nos municípios do
nordeste (não por coincidência as áreas onde se concentra boa parte dos
seus votos).
O abandono das regiões sul, oeste e Marajó
pode ser medido em números e tem alimentado o discurso separatista,
baseado principalmente na ausência do Estado nos municípios mais
distantes da capital.
A análise do orçamento enviado pelo
Executivo para 2015 mostra que, apesar do discurso de união, feito
durante a campanha, Jatene não mudou a forma de governar para o sul, o
oeste e o Marajó.
Na verba para custeio (manutenção da
máquina), é natural que haja uma concentração de recursos na capital, já
que boa parte da sede dos órgãos estaduais está em Belém, mas as
diferenças começam a ficar gritantes quando se analisam os recursos para
investimento - a fatia destinada para que o governo execute obras como
estradas, construção de hospitais e novas escolas.
A previsão orçamentária para o Estado em
2015 será de uma receita líquida em torno de R$ 20,9 bilhões, já
deduzidos os recursos do Fundo de Desenvolvimento do Ensino Básico
(Fundeb). Desse total, R$ 2 bilhões serão destinados aos outros poderes
de Estado, Ministério Público, órgãos constitucionais independentes e
Defensoria Pública.
Na mensagem enviada à AL, o governador
explicou que, dos recursos destinados ao Poder Executivo (estimados em
R$ 18,7 bilhões), 47% serão destinados ao pagamento de pessoal, 33% para
outras despesas correntes e apenas 9,5% para investimentos. Há ainda um
percentual destinado a inversões financeiras, dívida pública e reserva
de contingência.
No orçamento de investimento é que começam a
aparecer as distorções. Segundo o projeto do governo, a Região
Metropolitana deve concentrar 63,11% dos recursos, enquanto para a
região do Lago do Tucuruí a previsão em investimentos é de apenas 0,23%.
“Observando o projeto e seus anexos,
percebe-se que há uma forte concentração na região metropolitana no que
diz respeito a execução orçamentária, o que deixa as demais regiões com
um aporte menor de recursos”, diz o deputado Martinho Carmona, do PMDB.
Para ele, o governo deve fazer mudanças sob pena de reabrir as feridas
ainda não cicatrizadas do plebiscito de 2011.
“Vamos propor que o governo reveja esta
distribuição para poder promover ações de equilíbrio neste processo, a
fim de contemplar com percentual mais significativo e, com isso, atenuar
a constante e crescente insatisfação dessas regiões, o que os leva a
alimentar o sonho de serem autônomas”, explica Carmona.
DIFERENÇAS
DIFERENÇAS
Quando se analisa a parte destinada às
despesas, as diferenças regionais ficam ainda mais explícitas. O
demonstrativo regionalizado mostra que a Região Metropolitana é a que
aparece com o maior percentual totalizando 71,57%, enquanto que a região
do Lago do Tucuruí aparece com 1,27% do total de despesas. A região do
Marajó, onde ficam alguns do piores índices de desenvolvimento, receberá
apenas 3,15% do total da receita do Estado.
As regiões de Carajás e Tapajós, onde Jatene
teve o pior desempenho nas eleições parecem estar sendo punidas, já que
o volume de recursos caiu em relação ao previsto para este ano. Para
Carajás, o volume destinado ficou 57,24% menor, enquanto o Tapajós
perdeu 37,12%.
Como durante a campanha Jatene prometeu
criar centros regionais de administração fora da capital, o corte leva a
crer que esses órgãos, caso sejam de fato criados, serão meros cabides
de emprego, uma vez que, sem recursos para investimento, terão muito
pouco a contribuir com a política de desenvolvimento do Estado.
“Acredito que o governador tem todas as
possibilidades de rever a mensagem enviada à casa, uma vez que, quando
for ler a sua mensagem na Assembleia Legislativa após sua posse, terá
que mostrar uma preocupação com todo o Estado do Pará para justificar a
criação das duas regionais que vem alardeando. Este é um momento
importante para sinalizar para todo o Estado que as diferenças regionais
diminuirão, mas vamos aguardar os entendimentos que ocorrerão na
Comissão de Finanças”, diz Carmona.
O orçamento revela também que o Pará
dificilmente conseguirá avançar, já que o percentual de investimentos é
baixo. O próprio governador Jatene já afirmou em entrevistas que um
investimento abaixo de 10% da receita líquida é inexpressivo. Para 2015
prevê apenas 9,5%.
Sul do Estado pedirá revisão
Prefeito de Marabá, uma das cidades polo do
sul do Estado, João Salame diz que vai enviar expediente ao governador e
aos deputados pedindo a revisão do orçamento.
“Já somos muito prejudicados com baixos
investimentos e esses números para 2015 colocam a gente em uma situação
ainda mais crítica. O sul do Estado carece de recursos urgentes para a
área da saúde, educação, segurança, saneamento e estradas e o que está
sendo destinado mal dá para pagar a folha”, critica o prefeito.
Segundo ele, a concentração de recursos em
duas regiões vai na contramão do discurso de Jatene durante a campanha,
quando prometeu descentralizar a administração.
“Não basta dar emprego para meia dúzia de
políticos. É preciso ter uma política de desenvolvimento para o Estado e
distribuir os recursos de forma justa”. Indagado se a concentração dos
investimentos na Região Metropolitana de Belém pode ter relação com os
resultados eleitorais, Salame disse ter esperança de que não seja essa a
intenção. “Se o objetivo for manter a hegemonia nessas regiões (onde
Jatene teve mais voto), é uma estratégia equivocada, porque isso só
consolida a divisão do Estado tratando de maneira diferente os
paraenses”.
O prefeito diz estar à disposição para
rediscutir o orçamento com os agentes políticos de outras regiões de
formas a garantir uma distribuição mais equânime.
O deputado federal Lira Maia (DEM) diz que
tem “pedido, sugerido e implorado” que o orçamento seja revisto para
equilibrar a distribuição dos recursos. “O governador fez campanha
dizendo que criaria unidades regionais de representação de governo. Como
essas unidades vão funcionar sem recursos?”, indaga, afirmando que, se
fosse seguir a proporção da população, as regiões sul, sudeste e oeste
do Estado deveriam ficar com 34% dos recursos para investimentos.
(Diário do Pará)
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