Em vigor desde 2009, a legislação que prevê a aquisição por parte das
prefeituras municipais de, no mínimo, 30% de gêneros alimentícios
diretamente da agricultura familiar para fins de merenda escolar vem
sendo descumprida por mais da metade dos municípios paraenses. Após
cinco anos de validade, apenas 50 prefeituras no Pará aderiram à Lei nº
11.947/09, relacionada ao Programa Nacional de Alimentação Escolar
(Pnae) e à agricultura familiar. Algumas delas, incluindo municípios da
Região Metropolitana de Belém, cumprem a determinação parcialmente. O
Ministério Público Estadual (MPE), a partir do Grupo de Trabalho
Agrário, corre contra o tempo para reverter este cenário. Na semana
passada, o órgão expediu ofício às prefeituras paraenses, solicitando
informações à cerca do Pnae, sobretudo no que tange o cumprimento da
legislação que prevê a destinação de, pelo menos, 30% do Fundo Nacional
de Desenvolvimento da Educação (FNDE) na aquisição de alimentos oriundos
do empreendedor familiar rural ou de suas organizações.
Conforme explica a promotora de justiça da Promotoria Agrária do MPE
Eliene Moreira, apenas 35% das prefeituras do estado cumprem a
determinação, sendo que boa parte delas acataram a legislação de maneira
parcial, ou seja, utilizam o FNDE para adquirir a produção do campo na
própria região, porém, em percentual inferior aos 30% definidos na lei.
“Estivemos no Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) no semestre
passado, e, após reunir com o setor responsável pela implantação deste
projeto, procuramos as prefeituras para saber quantas estavam cumprindo a
legislação. A informação recebida foi que apenas 50 municípios estavam
dentro, ou parcialmente dentro, da lei”, afirma, reforçando que os dados
levantados pelo MPE são de 2013, já que as informações deste ano serão
concluídas apenas no ano que vem, dada a postergação de prazos.
Ela frisa que as 50 prefeituras que tentam cumprir a legislação não
informaram o percentual de compra nos parâmetros exigidos pela Lei nº
11.947/09. “A partir disso, os promotores agrários e cíveis passaram a
debater e chegamos à conclusão que será necessário o MPE apurar estas
informações de maneira mais detalhada. Esta é uma política importante,
não apenas no contexto social, envolvendo o produtor rural, mas também
no campo da alimentação saudável para nossos estudantes”, revela. Ainda
segundo Eliene Moreira, foi expedido um ofício para cada prefeitura
paraense, de forma que os gestores da educação municipal comprovem o
cumprimento da lei, e, inclusive, informando de quais produtores estão
sendo adquiridos os alimentos. “Preocupa-nos, além da baixa adesão das
prefeituras, a necessidade de melhoria na política agrária dos
municípios paraenses”, assevera.
CUMPRIMENTO
Outro ponto de observância do MPE será a compra dos alimentos para
fins de merenda escolar junto aos produtores do próprio município onde a
rede pública de ensino está estabelecida. De acordo com a promotora
Eliene Monteiro, em Belém, por exemplo, as escolas estão sendo
abastecidas por alimentos produzidos em Vigia, em Capitão Poço e na
região do Marajó. “A ideia é que o produtor local disponibilize os
alimentos para a merenda escolar de seu município”, revela. Ela destaca
ainda que um dos entraves para o cumprimento da lei está na ausência do
órgão de inspeção municipal. “É preciso desenvolver política agrícola e
sanitária. Em Belém, por exemplo, temos diversos assentamentos capazes
de atender à demanda da capital”, completa. Eliene afirma que o grande
objetivo do projeto é, além de mudar para melhor os hábitos alimentares
nas escolas, uma vez que os produtos industrializados são substituídos
por naturais, gerar renda entre os produtores no campo e fomentar a
movimentação da economia.
O próximo passo a ser dado pelo MPE é buscar, a partir de um Termo de
Ajustamento de Conduta (TAC), o cumprimento integral da legislação. “O
não cumprimento representa uma ilegalidade, que recai sob os prefeitos.
Assim sendo, eles podem responder por improbidade administrativa. Vamos
sugerir o TAC, de forma que todos possam se adequar à determinação”,
garante.
MPE
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