A partir de 20 de dezembro deste ano, será obrigatória a realização
do “teste da linguinha” em recém-nascidos, para a identificação de
problemas que podem resultar em dificuldades na fala, sucção, deglutição
e mastigação. A exigência no procedimento serve para hospitais públicos
e privados, e todas as maternidades do País. Está prevista na Lei nº.
13.002, de 20 de junho de 2014, chamada de Protocolo de Avaliação do
Frênulo da Língua em Bebês, sancionada pela presidente Dilma Rousseff.
No Pará, a Secretaria Estadual de Saúde (Sespa) afirma que, até
dezembro (já em cima do prazo), terá melhor informação do Ministério da
Saúde (MS) sobre como proceder, entretanto, garante que a lei está sendo
implementada em alguns hospitais.
“Vamos cumprir a legislação. A Fundação Santa Casa de Misericórdia já
realiza avaliação na sala de parto para bebês que nascem na maternidade
e fonoaudiólogas foram capacitadas para fazer esse tipo de exame. O
Hospital de Clínicas Gaspar Vianna fez também capacitação de uma
fonoaudióloga, afirma Ana Cristina Guzzo, coordenadora estadual de Saúde
da Criança da Sespa.
Quanto aos demais hospitais no Estado, Guzzo esclarece que a Sespa,
por meio da Coordenação de Saúde da Criança, encaminhou as informações e
a legislação para os municípios.
Foto: Divulgação
Porém, ela destaca que o “teste da linguinha” ainda não foi
incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS) e a Sespa hoje ainda não
sabe como melhor proceder diante da obrigatoriedade. “De acordo com a
Coordenação Geral de Saúde da Criança e Aleitamento Materno, do MS, o
teste ainda está para análise na Comissão Nacional de Incorporação de
Tecnologias no SUS e teremos informação até dezembro sobre como
proceder”, afirma a coordenadora.
Contra - A coordenação local ressalva ainda que comunga da mesma
opinião que a Coordenação Geral de Saúde da Criança e Aleitamento
Materno do MS e da Sociedade de Pediatria de São Paulo têm a respeito do
teste. Em um parecer emitido pela Coordenação Geral, em 5 de junho
deste ano, 15 dias antes da lei ser publicada, havia sete razões para
rejeição total do Projeto de Lei 113/2013, que originou a lei.
“Nosso parecer pela rejeição do PL se baseia em vários argumentos. O
primeiro deles é a preocupação com as possíveis consequências
iatrogênicas do Protocolo de avaliação proposto ‘teste da linguinha’ à
saúde infantil, já que, conforme afirmam várias entidades brasileiras de
pediatria, esse exame pode gerar falsos diagnósticos porque, segundo
esses especialistas, ele não tem a validação acadêmica necessária para
virar lei, podendo levar a cortes desnecessários do freio lingual, o que
muitas vezes causará complicações”, afirma a Coordenação Geral de Saúde
da Criança e Aleitamento Materno do Ministério da Saúde, em documento
encaminhado pela coordenadora à reportagem.
Em seu parecer, a Sociedade de Pediatria de São Paulo, feito em
conjunto de seus Departamentos Científicos de Aleitamento Materno,
Neonatologia, Otorrinolaringologia e Saúde Oral, pondera que o “teste da
linguinha” acarretaria uma despesa desnecessária, “uma vez que essa
avaliação já é realizada sistematicamente pelos pediatras na avaliação
do recém-nascido nas maternidades sem qualquer custo adicional”.
O assunto será tratado também na próxima reunião da Comissão
Intergestores Bipartite (CIB), que vai tratar sobre os testes de
triagens neonatais. A CIB reúne representantes da Secretaria Estadual de
Saúde (Sespa), Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) e de secretarias
municipais do interior do Estado, representadas por membros do seu
Conselho (Cosems).
Diagnóstico precoce possibilita tratamento
Segundo o deputado Onofre Agostini (PSD-SC), autor do Projeto de Lei
113/2013, que originou a lei, o propósito do exame é verificar se é
preciso cirurgia para corrigir irregularidades no frênulo lingual,
estrutura que liga a parte inferior da língua à boca. “O diagnóstico
precoce possibilita o tratamento imediato e a prevenção dos problemas
decorrentes da anquiloglossia, termo científico que designa a anomalia.
Os problemas de sucção, por exemplo, podem levar o bebê a ser desmamado
antes do tempo”.
Para Antônio José Nogueira, doutor e professor titular da disciplina
Clínica Infantil da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do
Pará (UFPA), o cumprimento da lei é simples. Talvez a dificuldade seja
em relação à infraestrutura dos hospitais para a garantia e realização
da cirurgia, se necessária.
“O cumprimento da lei é algo tão simples, não vejo dificuldades,
basta fazer. Talvez haja em relação à infraestrutura dos hospitais para a
realização da cirurgia, porque examinar e ver o problema qualquer
dentista, odontopediatra ou outro profissional faz. A questão aí é que
precisa garantir com que a criança submeta-se à cirurgia, que é feita
por um especialista e isto ainda não é garantido em todas as
maternidades públicas, logo depois que a criança nasce. Então, é preciso
que tudo seja adequado ao nascimento da criança. O odontopediatra tem
que ser logo comunicado, ou a família leva a criança a este
especialista, no máximo uma semana depois do nascimento, para observar
se a criança tem a ‘língua presa’”, explica Nogueira, que coordena o
Centro de Especialidades Odontológicas (CEO) Brasil Sorridente, programa
do governo federal, na Faculdade de Odontologia da UFPA.
Somente Faculdade de Odontologia da UFPA garante procedimento
Em Belém, a reportagem verificou que hoje somente o Programa Brasil
Sorridente, que funciona na Faculdade de Odontologia da Universidade
Federal do Pará (UFPA), no campus do bairro do Guamá, atende
gratuitamente à demanda espontânea de crianças que precisam de
atendimento de casos específicos, como é o caso do “teste da linguinha”.
Se diagnosticado o problema, é garantida inclusive a cirurgia no local.
“O Brasil Sorridente da UFPA pode fazer a cirurgia sim. A pessoa pode
chegar até o programa encaminhado por uma Unidade Municipal de Saúde ou
por demanda espontânea. Se os pais ou responsáveis tiverem alguma
suspeita em relação ao recém-nascido ou à criança já um pouco maior pode
trazer para o programa, que a criança será examinada e, se necessário,
faremos a cirurgia. Na UFPA é comum a gente examinar crianças que
precisam da cirurgia e já estão com 3 ou 4 anos. Mas o ideal é
identificar e operar o quanto antes, logo que nasce. A lei vem somar e
beneficiar os pacientes, porque ao fazer a cirurgia é possível evitar
uma série de consequências para o dente, musculatura, língua,
mastigação, respiração e, principalmente, à fala da criança”, explica
Antônio Nogueira, doutor e professor titular da disciplina Clínica
Infantil da Faculdade de Odontologia.
Segundo ele, existem alguns sinais que podem identificar se a criança tem “língua presa” logo ao nascer.
“Quando a criança nasce é preciso observar a língua. Se for
configurado que ela tem o freio inserido na ponta da língua é marcada a
cirurgia para liberação do freio da língua. O exame é muito simples, é
indolor. É tentar esticar a língua do bebê, tentar colocar a ponta da
língua no céu da boca e observa se o freio é muito inserido na ponta da
língua”.
Quanto à cirurgia o procedimento é também simples, diz ele, mas se
tratando de criança muito pequena o ideal é que ela durma sob efeito de
alguma droga, para que o médico faça o procedimento de forma tranquila,
mas não é perigosa. “Quanto às crianças maiores é solicitar que abra a
boca, fale ou, então, coloque a língua no céu da boca. Se não conseguir,
deve ser necessária a cirurgia”, orienta o odontopediatra.
ORM News
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