Nathana Simões
Da redação
A Divisão de Investigações e Operações Especiais (Dioe) da Polícia
Civil está de olho em estelionatários que usam classificados online para
fazer vítimas. Os golpistas apresentam ofertas que parecem vantajosas,
com preços bem menores do que os normalmente encontrados no mercado. A
“pegadinha” é que o bem ou serviço anunciado não existe, e quando a
vítima descobre já é tarde para reaver o dinheiro gasto.
O golpe é simples e já fez várias vítimas. Carros e telefones
celulares estão entre os itens mais oferecidos na internet pelos
criminosos. Os preços baixos ou as formas de pagamento facilitadas
atraem compradores, que são induzidos a pagar parte do valor
antecipadamente. O falso vendedor promete cobrar a segunda parcela
apenas quando o produto for recebido, mas antes de a transação ser
finalizada ele some com o dinheiro da entrada e não deixa pistas.
O servidor público Leonan Souza caiu nesse golpe. Ele pesquisava
carros usados por meio de um aplicativo de celular quando encontrou uma
proposta tentadora. Depois de dar uma entrada de R$ 15 mil, ele
assumiria as parcelas de R$ 1,2 mil no financiamento de uma picape
modelo 2014. O problema era que o proprietário do veículo residia no
município de Prainha e dizia que não tinha condições financeiras para
enviar o veículo de balsa até Belém. A vítima aceitou pagar R$ 1 mil
pelo transporte. No dia seguinte ao depósito bancário, o anúncio foi
retirado e o telefone, que durante dias havia sido usado pelo golpista
para fazer a negociação, estava desligado.
O delegado Neyvaldo Silva, diretor da Dioe, conta que uma vítima no
Pará já perdeu R$ 70 mil nesse tipo de negociação. “O único consolo para
as pessoas é que todo mundo cai, até policiais já caíram no golpe. Há
aquele momento de cegueira diante da proposta tentadora, e as pessoas
acabam depositando valores em contas que não sabem a procedência. E
quando descobre que não existe o bem, aquele carro, eletrodomésticos,
por exemplo, é tarde demais. Mas a polícia tem desbaratado quadrilhas
especializadas nesse tipo de crime”, afirma.
Há casos em que revendedoras reais de carros são usadas em anúncios
falsos. As propostas geralmente são de vendedores que residem no
interior do Estado e é preciso estar atento. “O site mais famoso e usado
é o OLX. O site não tem um crivo, porque quem anuncia é quem é
responsável. O melhor remédio é a prevenção, porque depois que acontece o
fato, para recuperar (o dinheiro) é impossível. A recomendação é se
certificar sempre sobre os dados apresentados, não acreditar em
facilidades. Veículo que vale R$ 50 mil ofertam por apenas R$ 30 mil,
celulares modernos e caros por menos da metade do preço original. Essa
desproporção de valor tem que desconfiar. Se for comprar um produto de
São Paulo, pedir para alguém se certificar no local sobre as condições é
o ideal. Na dúvida, não adquira. O caso mais comum é de produtos que a
pessoa paga uma parte do bem, mas ele nunca chega ao destinatário”,
explica Neyvaldo Silva.
O delegado destaca que os compradores precisam ter atenção no momento
de fazer um depósito bancário em nome de pessoas que nunca viram.
Geralmente, os golpistas utilizam documentos falsos para abrir contas.
Há casos em que os celulares usados nas negociações estão dentro de
penitenciárias.
“Anúncios de carros são os mais comuns”, afirma delegado
O delegado Neyvaldo Silva diz que já recebeu inúmeras denúncias de
vítimas de golpes pela internet. “Trabalho há mais de 20 anos
investigando esse tipo de crime e posso dizer que em muitos casos o
estelionato causa um trauma mais grave do que quando a pessoa é vítima
de roubo com o uso de arma, pois há pessoas que perdem um dinheiro que
foi guardado em uma vida inteira. Uma jovem veio aqui e disse que iria
se casar e comprou pela internet os eletrodomésticos. Os objetos nunca
chegaram. É um trauma muito grande, porque as pessoas ficam
envergonhadas, têm a sua inteligência ferida. Advogados, policiais, todo
tipo de pessoa já caiu nesse tipo de golpe”, afirma.
Silva explica que há três fases do golpe: primeiro o criminoso
escolhe a vítima, depois tenta ganhar a confiança dela e, por fim,
desperta o interesse e a cobiça. “Eles têm uma boa conversa, conseguem
enganar e, depois de ganhar a confiança, chegamos ao momento em que a
pessoa fica cega. Não vê a possibilidade de golpe porque já foi seduzida
pela possibilidade de adquirir um bem de forma vantajosa. A última fase
é a fuga, quando o criminoso desaparece. Agora se a pessoa desconfiar,
basta isso, e ela estará com 90% de chance de não cair, porque ela
duvidou”, afirma o delegado.
O diretor da Dioe conta que há investigações em andamento. Em julho, a
Polícia Civil apresentou dez pessoas presas sob acusação de integrar
uma quadrilha que aplicava golpes pela internet. Os homens foram presos
em Pernambuco e na Bahia, acusados de integrar uma organização criminosa
interestadual responsável por enganar pelo menos 100 pessoas em todo o
País, por meio de anúncios falsos de venda de carros pela internet. O
golpe pode ter rendido mais de R$ 1 milhão ao bando.
As investigações revelaram que pelo menos 100 contas bancárias foram
utilizadas pela organização criminosa para receber o dinheiro depositado
pelas vítimas. Na maioria dos casos tratava-se da entrada pela compra
de carros que não existiam. Os delegados Bruno Brasil e Augusto
Damasceno, de Capanema, e Fernando Rocha, do Núcleo de Inteligência
Policial, da Polícia Civil, estiveram à frente da operação “Estrela”,
iniciada em novembro do ano passado. “Há todo tipo de golpe, mas,
atualmente, os anúncios de carros são os mais comuns. Quando
identificados, os acusados respondem por estelionato, e se comprovar a
participação de mais pessoas, há também o crime de associação
criminosa”, afirma Neyvaldo Silva. (Pararijos NEWS)
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