(Foto: Celso Rodrigues )
O artigo publicado
em O Globo, no dia 14 de março de 1957 falava exatamente do contrabando
de armas. O jornalista José Leal se mostra surpreso com a notícia de que
em Belém estavam sendo vendidos revólveres contrabandeados. Na
sequência da sua apuração, o repórter teve um encontro com um homem
chamado Paulo Freire, no Grande Hotel, que se dizia sobrinho de
Victorino Freire e trabalhava como secretário no Banco da Amazônia.
Segundo o texto de Leal, Paulo disse que já tinha contrabandeado uísque,
mas que agora estava vendendo armas, e mostrou, de acordo com a
reportagem do Globo, “um lindo revólver calibre 32, oxidado, cabo de
nogueira”.
Espantado, Leal indagou a Paulo onde e
como havia adquirido tal arma. “Um amigo meu acaba de regressar dos
Estados Unidos e trouxe uma partida de cem”, confidenciou o secretário
do banco ao jornalista, que imediatamente se mostrou interessado,
dizendo a Paulo que tinha uns amigos no Rio de Janeiro que lhe haviam
pedido para comprar uns revólveres.
O CONTRABANDISTA
Paulo disse que falaria com seu amigo e
tentaria articular um encontro entre eles. O tal amigo contrabandista de
armas era Rômulo Maiorana - o pai - e o encontro entre ele e o repórter
carioca de fato aconteceu e foi relatado pelo jornalista, com detalhes
(leia no box abaixo).
Na conversa, Maiorana disse que era
colunista social do matutino O Liberal e admitiu que tinha, sim, trazido
armas dos Estados Unidos, para vender em Belém. Era o início de um
negócio clandestino e criminoso, mas que rendeu muito dinheiro a Rômulo
Maiorana. E foi esse mesmo dinheiro que lhe deu condições de se tornar
dono de uma grande rede de lojas e de comprar, em 1966, o jornal O
Liberal. Dez anos depois - e cada vez mais rico e poderoso -, ele
inaugurou a TV Liberal, montada em apenas 8 meses, para se tornar
afiliada da Rede Globo no Pará. Até conseguir toda a sua fortuna, no
entanto, Rômulo Maiorana foi responsável por operações de contrabando
cinematográficas, dignas de filmes de Hollywood.
Operações de contrabando a la Hollywood
Nas reportagens publicadas pelo
Globo, o contrabando articulado pelo grupo de Rômulo Maiorana era
contado em detalhes, como se fosse um filme de ação. Segundo o texto, as
armas chegavam em aviões vindos do exterior, que pousavam no aeroporto
de Belém. Quando chegavam no final da pista, onde deveriam fazer a curva
e retornar para o desembarque dos passageiros, as aeronaves abriam as
portas de carga e um comissário de bordo empurrava, para fora do avião,
as caixas com os produtos contrabandeados. Tanto os pilotos quanto os
comissários também estavam envolvidos no crime e eram muito bem pagos
pela ajuda. No fim da pista, com a iluminação precária da época e as
turbinas do avião ainda ligadas, ninguém via nem ouvia nada do que
acontecia fora da aeronave. Em seu texto, o jornalista de O Globo
explica a última etapa da operação criminosa: “Dentro do mato estão
escondidos os homens encarregados de transportar os volumes para um
jipe, que some na estrada que vai para a cidade”.
O repórter carioca prossegue: “Desse
modo, ficam os leitores sabendo que, em Belém, até o colunista social é
contrabandista”. Foi essa a lamentável imagem que o Brasil teve do povo
paraense, graças às contravenções do empresário Rômulo Maiorana.
A notícia de O Globo, um dos maiores
jornais do País e que integra as Organizações Globo, cuja programação é
transmitida no Pará pela TV Liberal, de propriedade da família Maiorana,
mostra de que forma começaram os negócios do clã Maiorana e de como o
patriarca da família ganhava a vida e fez fortuna na década de 1950. De
dia, era um reles colunista de jornal. À noite, percorria os ambientes
mais sofisticados da cidade, oferecendo armamento contrabandeado. Com os
lucros da contravenção ficou rico e, mais tarde, com a ajuda de pessoas
influentes, compraria o jornal O Liberal e a TV Liberal. E atualmente,
mais de 50 anos depois, seu filho, Rômulo Maiorana Jr., mostra que o
contrabando está no DNA da família.
(Diário do Pará/Pararijos NEWS)
Nenhum comentário:
Postar um comentário