Barreira com pneus foi colocada por moradores na região do Aturiá, em Macapá (Foto: John Pacheco/G1)
O medo de ter a casa destruída pela força da maré do rio Amazonas na orla de Macapá
motivou um grupo de moradores da região do Aturiá, na Zona Sul, a
improvisar um muro de contenção feito com pneus de carro que foram
recolhidos de borracharias e lixeiras.O objetivo é conter o avanço das águas sobre as residências até o término das obras do muro de arrimo na região, que são de responsabilidade do governo estadual, com previsão inicial de entrega para 2014. A construção atrasou e, desde fevereiro de 2015, está parada.
A Secretaria de Estado da Infraestrutura (Seinf) informou que tem recursos previstos e habilitou documentação para retomar a obra, porém, aguarda liberação do dinheiro por parte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Obras do governo deveriam ser entregues em 2014, mas pararam em 2015 (Foto: Jéssica Alves/G1)
Na ocasião em que a reportagem do G1 foi ao local da
construção, na manhã desta segunda-feira (8), o aposentado Adenor
Sanches da Costa, de 81 anos, estava trabalhando no muro improvisado que
tem cerca de 30 metros de extensão.Ele contou que a iniciativa surgiu em parceria com outros vizinhos e que o avanço da maré motivou a decisão. O trabalho é feito de forma voluntária, e, segundo o idoso, teria sido inspirado em modelos semelhantes de barreiras de contenção usadas por ribeirinhos de ilhas na região entre o Amapá e o Pará. "Aqui não tem engenheiro, não", brinca o morador.
"A água quando vai bater nos pneus, eles vão afundar, mas é só colocar pedra dentro dele e depois outro por cima. Não é algo definitivo, mas não dá para ninguém ficar aqui esperando ir para o fundo e
Adenor Sanches mora há 25 anos no Aturiá e ajuda na barreira de pneus (Foto: John Pacheco/G1)
O idoso saiu do interior do estado e há 25 anos mora no Aturiá. Ele
disse que quando chegou à região o rio era distante da casa onde vive,
e, por isso, nem chegou a imaginar que a água alcançaria a residência.
Ele morava com dez filhos na orla, mas hoje mora com dois. Segundo ele,
os demais foram embora por causa do risco de desabamento do imóvel.Sobre a possibilidade de precisar remover os pneus em caso de ordem do poder público, o aposentado disse que o fará quando for minimizado o risco de invasão da água. "De que adianta me pedirem para tirar? Eu tiro sim, mas me deem condições de viver decente. Ou com um muro que 'preste' ou aluguel social", falou.
Everaldo Cardoso, de 25 anos, disse que saiu da casa de madeira há menos de duas semanas quando o imóvel começou a balançar e horas depois foi levado pelo rio. Nenhuma das pessoas que morava na residência ficou ferida, assim como nenhum bem material foi perdido.
"Tive que ficar aqui, porque tentei sair várias vezes, mas não encontrei lugar para morar. O governo tenta pagar aluguel, mas atrasa muito, e ninguém quer mais alugar quando sabe que o dinheiro é vindo do aluguel social", falou Cardoso.
Avanço do rio Amazonas
De acordo com a Defesa Civil Municipal, são pelo menos 200 casas com alto risco de desabamento pela força do Amazonas no Aturiá. O início do período chuvoso combinado com a alta da maré e fortes ventos são fatores que deixam a instituição em alerta.
Perigo constante
Estudos do Instituto Estadual de Pesquisas Científicas e Tecnológicas (Iepa) apontam que no período entre 2010 e 2015, o rio Amazonas invadiu cerca de 30 metros o bairro Araxá, causando a retirada de 120 famílias da área nesse período. Casos de desabamentos de imóveis no Aturiá acontecem desde 2008, quando o primeiro muro de arrimo que protegia a região foi destruído pela força do rio.
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