Simão Jatene:
acusado, em outro caso, de crime de corrupção passiva, ele foi
financiado por empresas do Petrolão (Foto: Fernando Araújo)
Marcelo Odebrecht, dono
de uma das maiores empreiteiras do mundo, está preso, por participação
no esquema de corrupção que o mundo conhece pelo nome de Petrolão e que
desviou mais de R$ 50 bilhões dos cofres públicos no Brasil. Por atuação
no mesmo esquema, desbaratado pela Polícia Federal (PF) na famosa
operação Lava Jato, também já foram presos Léo Pinheiro, da construtora
OAS, e Alexandrino de Alencar, da petroquímica Braskem.
Além de terem sido presos pela operação Lava
Jato, sob a acusação de pagarem propina a diretores da Petrobras e a
políticos, esses bilionários empresários têm outro ponto em comum: todos
financiaram a campanha de Simão Jatene ao Governo do Pará, em 2014.
Todos. E tem mais. Além de Odebrecht, OAS e Braskem, mais três empresas
investigadas pela Lava Jato bancaram a campanha milionária de Jatene:
JBS (famosa pela marca Friboi), a construtora Queiroz Galvão e a
empreiteira Tiisa. Documentos conseguidos pelo DIÁRIO mostram, em
detalhes, as contribuições que essas empresas -repetindo, todas
investigadas na operação da Lava Jato - depositaram na campanha do nosso
governador.
Ao todo, foram mais de R$ 2 milhões
utilizados na espalhafatosa campanha de Jatene, em 2014. Em números mais
exatos, foram R$ 2.106.075 que favoreceram a polêmica campanha do
governador, que já responde a processo por corrupção (veja box abaixo, à
direita). É importante ressaltar que todos esses valores foram
declarados pelo próprio Jatene, em sua prestação de contas da última
campanha eleitoral.
SUSPEITAS
SUSPEITAS
Especialista em economia política ouvido
pelo DIÁRIO - que não quis se identificar por prestar consultoria a
diversos partidos, inclusive o PSDB, do qual Jatene faz parte - analisou
os pagamentos realizados pelas empresas à campanha do governador do
Pará. São muitos e diversos os indícios de sujeira. A Queiroz Galvão,
por exemplo - empresa que teve R$ 163 milhões bloqueados pela Justiça
Federal, na operação Lava Jato -, fez 7 depósitos na conta da campanha
de Jatene: 4 em setembro e três em outubro de 2014. No total, a
construtora deu R$ 225 mil para o governador torrar em sua campanha.
Nesse caso, o especialista ouvido pelo
DIÁRIO apontou dois pontos que considera suspeitos. Primeiro: todos os
depósitos foram feitos nos últimos meses da campanha. “Quando se trata
de campanha política, isso é um forte indicador de que essa doação será
usada como moeda de troca. Ou seja, a empresa paga, mas deixando claro
que vai querer algo em troca, em caso de vitória do candidato”, diz o
economista político.
Ele questiona: “Afinal, por que deixar para
fazer a doação aos 45 minutos do segundo tempo da campanha?”. O outro
ponto destacado pelo especialista é sobre a quantidade de depósitos
realizados. Segundo ele, nada justifica uma empresa bilionária como a
Queiroz Galvão fazer 7 depósitos que, ao todo, somam apenas R$ 225 mil.
“Para uma pessoa comum, isso é muito dinheiro. Mas para uma construtora
do porte da Queiroz Galvão, esse valor não é nada”, destaca. Ou seja: a
empresa poderia depositar o valor total de uma única vez. Sendo assim,
por que preferiu efetuar 7 depósitos? “Não dá para saber. Mas, para nós
que trabalhamos nesse setor, fica claro que algo de errado existe”. De
fato, que algo de muito errado existe na campanha eleitoral e na conduta
de Jatene, o povo paraense sabe há muito tempo. O que acontece é que,
agora, as contas do próprio governador do Pará estão apontando nessa
direção.
Mais doações misteriosas ao governador
As doações para campanha do governador têm,
ainda, muitos outros fatores considerados obscuros pelos especialistas
em economia política. Um dos mais insólitos diz respeito à doação de R$
1.075 feita pela Odebrecht. Isso mesmo, leitor. Você leu direito: R$
1.075. Pouco mais de apenas 1 mil reais. A pergunta que intriga os
estudiosos de política econômica é: Por que uma das maiores empreiteiras
do mundo, com obras sendo tocadas em diversos países do planeta, faria
uma doação de míseros 1 mil reais?
“Impossível dizer”, resume o especialista
entrevistado pelo DIÁRIO. “Mas, mais uma vez, fica muito evidente que
algo de errado existe”. O que se sabe é que o dono da empresa, Marcelo
Odebrecht - o empresário citado no início desta reportagem -, é dono de
um patrimônio avaliado em R$ 13 bilhões. O que faria um homem com tantos
bilhões na conta corrente doar apenas
R$ 1.075 a uma campanha política, talvez só Jatene saiba responder.
R$ 1.075 a uma campanha política, talvez só Jatene saiba responder.
Outra doação com cheiro de falcatrua foi
feita pela petroquímica Braskem - outra companhia bilionária -, que
contribuiu com R$ 560 mil para a campanha do nosso governador com R$ 560
mil. Nesse caso, o problema não é o valor, mas como ele foi realizado.
Alvo de uma operação de busca e apreensão da PF, na Lava Jato -
realizada há 6 meses -, a Braskem fez 71 depósitos na conta da campanha
de Jatene. “Nada justifica um número tão grande de depósitos, sendo que
uma empresa tão rica poderia doar essa quantia de uma única vez, sem
sentir no bolso”, analisa o especialista. Não é só isso. Entre todos
esses depósitos, um chama a atenção de qualquer pessoa. No dia 9 de
setembro de 2014, a Braskem depositou R$ 28,50 na conta da campanha de
Jatene. Sim. Vinte e oito reais e cinquenta centavos é uma quantia que
não paga nem o almoço do governador. “É mais uma dessas contribuições
misteriosas. Fica quase impossível aceitar que não há nada de errado num
negócio assim”, resume o economista.
Marca da corrupção acompanha Jatene
A ligação com empresas
envolvidas na operação Lava Jato coloca o nome de Simão Jatene num
cenário de corrupção. Mas essa não é a primeira vez que o governador é
acusado de envolvimento em práticas ilícitas. Jatene responde pelo crime
de corrupção passiva, na Ação Penal nº 827, que tramita no STJ há mais
de 9 anos. As investigações dizem respeito ao famoso “Caso Cerpasa” e
começaram há 13 anos, sob o comando do Ministério Público Federal (MPF) e
da Polícia Federal (PF). A armação era tamanha, que estava até
documentada.
Um livro de contabilidade e computadores
apreendidos pela PF, na sede da Cerpasa, revelaram o pagamento de R$
12,5 milhões de propina, em prestações, durante o fim do mandato de
Almir Gabriel e nos 2 primeiros anos do Governo de Jatene (2003 e 2004).
Por esse caso, o governador foi acusado de ter obtido vantagem
econômica indevida, como condição para aprovação de futura remissão da
dívida, com fundamento na Lei Estadual 6.489/02.
Em seu parecer, o MPF concluiu que o Estado
do Pará foi lesado em pelo menos R$ 83 milhões. Esse foi o valor que
Jatene concedeu à Cerpasa como perdão de dívidas de Imposto Sobre
Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS). Se condenado, Jatene pode
pegar até 8 anos de prisão.
(Klester Cavalcanti/Pararijos NEWS)
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