A falta de planejamento urbano seria a raiz da degradação do centro
histórico e comercial de Belém, segundo a arquiteta e conselheira do
Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), Alice Rosas. A ausência de
organização do poder público tem reflexos que vão desde o desrespeito e
desatualização da legislação específica sobre o patrimônio histórico até
a destruição premeditada dos prédios por proprietários, pela população e
até por órgãos públicos. Enquanto a ausência de soluções continua, o
patrimônio padece com o abandono. “Da feita que um prédio cai não tem
como recuperar. O CAU está observando com muito cuidado e acompanhando
as ações. Isso é um reflexo do que acontece com a cidade, o planejamento
da cidade não foi implementado. Os instrumentos do Plano Diretor, que
exigem um plano específico para o centro histórico, não foram
executados”, advertiu Rosas.
O Conselho que possui três anos de existência e contribui em
discussões de fóruns sobre o tema, pode dar pareceres técnicos sobre os
assuntos que envolvem o planejamento urbano para o poder público, a
Câmara Municipal ou instituições da sociedade civil que solicitem os
estudos. Atualmente, o CAU implementa a Comissão de Planejamento Urbano e
Ambiental que será responsável por discutir as questões sobre a cidade e
sobre o patrimônio de forma geral. Baseado nesses pareceres, o conselho
também pode ajuizar ações para cobrar atitudes ou fiscalizar o poder
público.
Foto: Oswaldo Forte/O Liberal
O primeiro problema na avaliação de Rosas é a desatualização das leis
sobre o patrimônio, resultando na ausência de mecanismos legais que
possam ser utilizados pelo poder público para fiscalização, incentivo e
revitalização do centro histórico. Para ela, apesar da lei municipal nº
7.709 do ano de 1994 ter impedido a descaracterização total dos bairros
do centro histórico, a norma está desatualizada. Com mais de 20 anos,
ela não possui mecanismos de incentivo aos proprietários de imóveis
antigos para revitalizar e cuidar do patrimônio e nem planeja ações
amplas do poder público.
“Se não existe um instrumento legal, a ação do poder público fica
muito limitada ou inócua. É com base na lei 7.709/94 que o poder público
atua: ela é posterior ao Plano Diretor de 1993, que foi revisto e
reformulado pela lei 8.655/2008. A partir daí o Plano de Centro
Histórico deveria ter sido revisto, até para normatizar operações
urbanas, criar instrumentos para recuperação de áreas degradadas, IPTU
progressivo, cobrança de contribuição e melhorias nos prédios”,
argumentou.
A ausência de legislação e a consequente falta de ações integradas e
planejadas geram a contínua degradação do patrimônio histórico, tanto
pelos proprietários de imóveis, como pela população que trafega pela
área e até pelos próprios órgãos públicos que deveriam zelar pelo espaço
urbano.
“Há vários imóveis que estão sofrendo descaracterização e não vemos
ações no dia a dia. Isso tem que ser visto sob o ponto de vista da
sensibilidade. Muitos carros estacionam nas calçadas, caminhões passam
pelo centro histórico. As calçadas são tombadas, possuem pedras de
lioz”, exemplificou. Para a arquiteta, às vezes a destruição desses
espaços é proposital: “A gente vê na própria postura das pessoas: um
proprietário espera o prédio cair para construir outro empreendimento”,
complementou.
Segundo ela, iniciativas como a criação de entidades que defendam o
patrimônio histórico, a exemplo da Associação Cidade Velha, Cidade Viva
(Ceviva) que fiscaliza e cobra melhorias no centro histórico e a
elaboração de um projeto urbano para o comércio, a ser apresentado à
Prefeitura de Belém pelo Fórum de Entidades Representativas, são provas
de que a sociedade civil está interessada na preservação da sua
história. Nada poderá ser efetivado, porém, se a gestão municipal não
discutir o tema com os diversos atores da cidade e executar as ações em
parceria.
“A gente se ressente muito quando um casarão desses vai abaixo. As
futuras gerações talvez não conheçam esses ambientes de época como nós
conhecemos agora. Você perde a noção de conjunto, a relação cultural do
modo de vida da sociedade e acaba perdendo uma leitura visual, acaba
perdendo o turista”, diagnosticou. Para ela, trata-se de um contrasenso,
destruir ou não dar importância a um dos principais atrativos que Belém
tem: a arquitetura colonial portuguesa. “Essa é uma marca importante
para a cultura do Brasil”, destacou.
CREA
De acordo com o membro do Conselho Regional de Engenharia e
Agronomia, Rui Dinamar Andrade, embora não possua estudo específico
sobre o centro histórico, o CREA fiscaliza o exercício profissional da
engenharia, o que pode ter relação direta com a degradação dos prédios.
O Conselho tenta coibir o exercício ilegal da profissão e acompanha a
atuação dos engenheiros, uma vez que todos os serviços devem ser
realizados com o apoio de um profissional habilitado para que as normas e
a segurança sejam asseguradas. Um exemplo seria a ausência de um
engenheiro elétrico na reforma da fiação elétrica de um prédio, o que
pode gerar possíveis incêndios por curto-circuito.
(Pararijos NEWS)
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