A TV Globo teve acesso com exclusividade à documentação encaminhada pelo Ministério Público suíço ao Brasil – por meio de 35 arquivos –, na qual, além da reprodução do passaporte e do visto norte-americano de Cunha, constam nome completo, data de nascimento e endereço dele em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
No total, as contas de Cunha na Suíça, indicam as investigações, receberam nos últimos anos depósitos de US$ 4.831.711,44 e 1.311.700 francos suíços, equivalentes a cerca de R$ 23,8 milhões, segundo a cotação desta sexta-feira (16).
Em uma das contas atribuídas ao presidente da Câmara na Suíça, em nome da offshore Triumph SP – constituída em Edimburgo, na Escócia –, há uma cópia do passaporte de Cunha. A Triumph, ressalta o Ministério Público, é uma empresa de trust utilizada para fazer a custódia e a administração dos bens, interesses e dinheiro do presidente da Câmara.
Em outro documento, que autoriza investimentos vinculados à conta bancária, aparece uma assinatura semelhante à registrada no passaporte do peemedebista.
Na noite desta quinta-feira (15), o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, autorizou a abertura de um novo inquérito para investigar Cunha. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, quer apurar suspeitas de corrupção e lavagem de dinheiro em razão das quatro contas na Suíça atribuídas ao parlamentar do PMDB e a familiares.
A Procuradoria Geral da República informou nesta sexta-feira (16) haver “indícios suficientes” de que as contas do presidente da Câmara no exterior são “produto de crime" e pediu o bloqueio e o sequestro do dinheiro depositado. Segundo a PGR, entre 2002 e 2014, a evolução patrimonial de Cunha foi de 214%.
As investigações do Ministério Público da Suíça indicam que Eduardo Cunha manteve quatro contas bancárias no país europeu, abertas entre 2007 e 2008. Dessas, duas teriam sido fechadas pelo deputado no ano passado, em abril e maio.
As outras duas contas, com saldo de 2,4 milhões de francos suíços (cerca de US$ 2,4 milhões ou R$ 9,3 milhões), foram bloqueadas pela Justiça suíça.
Neste ano, em depoimento à CPI da Petrobras, o presidente da Câmara afirmou que não tem contas no exterior. Posteriormente, quando surgiram as informações de que ele tinha quatro contas na Suíça, o peemedebista reiterou as declarações que deu aos integrantes da comissão de inquérito.
De acordo com as investigações, parte do dinheiro teria sido pago a Cunha como propina por contrato fechado entre a Petrobras e a empresa Companie Beninoise des Hydrocarbures Sarl, em Benin, na África.
O empresário Idalecio de Oliveira era proprietário de um campo de petróleo em Benin e, segundo documentos, fez um contrato de US$ 34,5 milhões com a Petrobras para exploração dessa área.
Os investigadores afirmam ainda que o engenheiro João Augusto Rezende Henriques, apontado pela força-tarefa da Operação Lava Jato como um dos operadores do PMDB, recebeu em maio de 2011 da Lusitania Petroleum Ltd – cujo titular é Idalecio de Oliveira – US$ 10 milhões como “taxa de sucesso” pelo negócio fechado pela Petrobras em Benin.
Segundo investigadores com acesso às informações, o titular da offshore era, à época dos depósitos em 2011, o presidente da Câmara. Constam nos documentos cadastrais da conta Orion SP cópia do passaporte e do visto norte-americano de Eduardo Cunha.
De acordo com os dados suíços, essa conta foi aberta em 20 de junho de 2008 e encerrada em 23 de abril de 2014. Em meio à papelada da da conta bancária ligada à Orion SP na Suíça, há um formulário que revela o peemedebista era cliente do Meryll Lynch de Nova York desde 2003. Cinco anos depois, explicaram as autoridades suíças, ele resolveu transferir a conta para a filial do banco em Genebra.
Em depoimento a investigadores da Operação Lava Jato no Paraná, Henriques disse que não sabia quem era o destinatário do dinheiro repassado para a conta Orion, mas afirmou que fez o depósito a pedido de Felipe Diniz, filho do ex-deputado Fernando Diniz (PMDB-MG).
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