A escola Rego Barros mais uma
vez foi uma das escolas públicas que melhor se destacaram no Enem, mas é
mantida pela rede federal de ensino (Foto: Alzyr Quaresma)
E o
Ensino Público do Pará fez feio no Enem mais uma vez. Dentre as 14.717
escolas que participaram da realização do Exame Nacional do Ensino Médio
no ano de 2013, ficou com o Estado a sétima pior média nacional: a
Escola Estadual de Ensino Médio São José, localizada no município de
Marabá, e de nível socioeconômico considerado baixo (renda familiar
mensal de até um salário mínimo), pelos critérios de avaliação do
Ministério da Educação, obteve, com a participação de seus dez
estudantes aptos ao teste, 409,8 pontos na tendência.
Já no cenário positivo, o Sistema de Ensino
Equipe, da rede particular de ensino e considerado de nível
socioeconômico alto (renda familiar mensal acima de sete salários
mínimos), é a primeira ocorrência paraense no rol, na 382ª posição, com a
média 628,7, a sexta colocada, de toda a região - sendo que a primeira
ocorrência estadual na lista nacional só aparece 6.047 postos depois,
com a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Tiradentes II, em
Belém, com média de 510,7. Para quem analisa o cenário da Educação
Pública como dependente de muitas variáveis sociais, incluindo a
pontuação do Pará junto ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(Ideb), que só caiu de 2009 para cá, o panorama é lamentável, sim, mas
não surpreendente.
MELHORES
MELHORES
Das 1.472 escolas em todo o Brasil com o
melhor desempenho, oito apenas são do Pará, e todas da rede privada,
onde estão matriculados alunos de nível socioeconômico Muito Alto, Alto
ou Médio-Alto (renda familiar mensal entre cinco e sete salários
mínimos).
Dentre as cem melhores médias, há uma única
ocorrência na região Norte, para o Estado do Tocantins (77o. lugar),
também na rede privada. Antes da colocação do colégio Equipe, o estado
do Amazonas aparece na lista três vezes com escolas particulares
colocadas entre as 300 melhores.
As escolas da região sudeste lideram o
ranking das 50 maiores médias, abrindo um pequeno espaço para outras
nove da região Nordeste e Centro-Oeste.
Ao portal do jornal Folha de São Paulo, em
matéria publicada esta semana sobre o assunto, a coordenadora do
Observatório Sociológico Família-Escola da Universidade Federal de Minas
Gerais, Maria Alice Nogueira, confirmou que é forte a correlação entre
as condições socioeconômicas dos pais e o desempenho dos estudantes -
afirmação corroborada pelo cientista político Roberto Correa, da
Universidade Federal do Pará (UFPA).
“Se os pais têm condições melhores, vão
pagar um colégio de mensalidade que paga bem o salário dos professores,
diferente do sistema público, com professores que trabalham em vários
lugares para poder sobreviver. Governo que não faz nada para elevar as
condições de quem vive em condição de baixa renda não vai ver a educação
melhorar. Esses resultados traduzem um recado duro para quem está no
poder”, dispara ele. “A Educação é um direito de todos, e o desempenho
no Enem reflete a qualidade do Ensino Médio que, no sistema público, é
de responsabilidade do Governo do Estado”, reforça.
“Pela Lei da Responsabilidade Fiscal, os
estados são obrigados a aplicar no mínimo 25% da receita arrecadada de
impostos em Educação. Entenda: no mínimo. Pode ser aplicado mais, e
quando há a necessidade, e no Pará a necessidade é grande, deve ser
aplicado mais. Mas aqui é preciso brigar por esse mínimo”, expõe Correa.
Ele afirma que o aumento quantitativo das notas se refere basicamente
ao “estalo” de que o Enem virou porta única de entrada para muitas
universidades. “A garotada se espertou e por isso houve uma melhora”,
justifica.
“Na época do governo da Ana Júlia (Carepa,
PT, 2007-2010), houve um bom investimento em saneamento básico, em
construção de poços, foi criado o Navega Pará, ou seja, houve um
investimento voltado todo para o social. Em 2009, o Ideb chegou a estar
‘lá em cima’, em 3.0. Educação é capital social e capital humano, e da
forma como está, aqui não se produz nem um e nem outro”, avalia Correa,
levando em consideração os últimos resultados do Ideb para o Pará: 2.8
em 2011 e 2.6 em 2013. “Há tempos ocorre um desleixo no encaminhamento
dessas políticas públicas”, lamenta o cientista político.
A assessoria da Secretaria de Estado de
Educação Pública (Seduc) foi procurada pela reportagem por e-mail e
telefone, mas não enviou posicionamento à redação até o fechamento desta
matéria.
Um bom exemplo: foco nas dificuldades
Esforço, disciplina e dedicação resumem, em
poucas palavras, a boa colocação do Sistema de Ensino Equipe no ranking
do Enem 2013 no entendimento da diretora pedagógica da escola, Roberta
Eluan. “O setor pedagógico se dedica muito às dificuldades do aluno. Se
temos um estudante com dificuldades em História, por exemplo, cria-se um
horário diferenciado de estudos para ele, de modo a tentar vencer essas
debilidades”, explica.
“É um esforço compartilhado, pela excelente
equipe de professores, pelos próprios alunos e pela escola como um todo.
O aluno, desde o primeiro ano, se foca no conteúdo do Enem. Antes era
Enem e [Universidade do Estado do Pará] Uepa, que tinha uma prova
diferenciada, mas agora que a universidade também aderiu, o foco se
volta integralmente ao Enem. O aluno que é bom sempre pode melhorar, mas
a gente trabalha muito em cima do alunado ‘meio-termo’, que não é nem
bom e nem ruim, para que ele possa vencer as dificuldades e elevar a
nossa média no Exame. As aulas são as mesmas, como em qualquer colégio,
são quatro avaliações, tem recuperação, seguimos o programa da Seduc. A
diferença é o método da avaliação, o desdobramento dos resultados das
avaliações que geram os atendimentos individualizados com os alunos,
focadas nas dificuldades que eles apresentam”, detalha.
LEIA MAIS:
(Diário do Pará)
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