(Foto: Bruno Carachesti)
Você, caro leitor,
deve ser um dos milhões de brasileiros que estão fazendo de tudo para
economizar, cortando gastos com supérfluos, evitando jantar fora de
casa. Todo mundo sabe: a crise está braba. Para alguns, porém, a
história é outra. Para o governador Simão Jatene, por exemplo, o
dinheiro parece estar sobrando. Afinal, o governador do Pará torrou R$
216 milhões em propaganda, entre janeiro de 2011 - quando assumiu o
comando do Estado - e dezembro do ano passado. E sabe de onde saiu esse
dinheirão todo? Do seu bolso, amigo contribuinte.
Os dados constam de informações
extraídas pelo DIÁRIO dos Balanços Gerais do Estado (BGEs) e do portal
Transparência Pará. E a gastança não deve parar nem reduzir. Para este
ano, a previsão do Orçamento Geral do Estado (OGE) é de que outros R$ 38
milhões sejam torrados em propaganda, o que elevará os gastos de Jatene
em publicidade para R$ 253,7 milhões, em 6 anos de Governo.
Se desse prioridade ao que realmente
interessa ao povo do Pará, Jatene poderia ter aplicado esses R$ 216
milhões em algo muito mais importante, como construir cinco hospitais do
tamanho do Metropolitano de Urgência e Emergência, levantar 44 escolas
ou erguer 3,6 mil casas populares (veja quadro à dir.). Mas as
preocupações do governador são outras. Para ele, fazer propaganda vale
mais do que fazer de verdade.
Os R$ 216 milhões já gastos na
publicidade de Jatene superam até o que foi investido pelo Governo em
projetos de infraestrutura de vários municípios, e de incentivo
financeiro a empresas, por meio do Fundo de Desenvolvimento do Estado do
Pará (FDE). Entre 2011 e 2015, tudo o que o FDE investiu nesses
municípios e empresas ficou em pouco menos de R$ 174 milhões.
Anos de ICMS
De todos os municípios do Pará, apenas
Belém e Parauapebas receberam do Governo valores superiores aos tais R$
216 milhões em Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços
(ICMS): Belém (R$ 345 milhões) e Parauapebas (R$ 329 milhões). Todos os
demais 142 municípios do Estado, que concentram 6,5 milhões de
habitantes (80% da população), levariam anos ou décadas para receber de
ICMS aquilo que Jatene já gastou em propaganda.
É o caso de Abaetetuba, com mais de 150
mil habitantes, cujo ICMS, em 2015, foi de pouco mais de R$ 10 milhões.
Ou seja, Abaetetuba levaria quase 22 anos para ver tanto dinheiro quanto
o que o governador torrou em publicidade. Outro exemplo: em Ananindeua,
a segunda cidade mais populosa do Estado (505 mil habitantes), esses R$
216 milhões equivalem a mais de 2 anos de ICMS. E o mesmo ocorre em
relação a Marabá, Tucuruí, Castanhal e municípios do Marajó (veja
matéria abaixo, à direita).
Os gastos de Jatene em propaganda poderiam mudar a vida no Marajó
Uma das regiões mais lindas e pobres do
Brasil, o Marajó sofre com as escolhas equivocadas do governador. Para
se ter ideia, os gastos de Jatene com propaganda representam quase 4
anos do ICMS que ele repassou, no ano passado, aos 16 municípios do
Marajó, juntos. No arquipélago amazônico, que abriga mais de 500 mil
pessoas, adolescentes se prostituem em troca até de óleo diesel, para
abastecer embarcações familiares. Dos 16 municípios marajoaras, 8 estão
entre os 50 piores Índices de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) do
Brasil. Seis deles (incluindo Melgaço, o pior do ranking nacional)
figuram entre os únicos 32 municípios brasileiros que ainda apresentam
um IDHM muito baixo (menos de 0,499, numa escala que vai até 1).
Se em vez de torrar R$ 216 milhões em
propaganda Jatene investivesse essa verba toda na construção de escolas,
hospitais, casas populares e postos de saúde no Marajó, certamente a
vida no arquipélago seria muito melhor. Mas o governador tem outras
prioridades.
(Ana Célia Pinheiro/Diário do Pará/Parearijos NEWS)
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